"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano

A verdadeira história do Judô Parte um


QUE DIZ A HISTÓRIA SOBRE O JU-JUTSU
O Nihon Shoki - relata as crônicas mais antigas da história do Japão. Essas crônicas foram escritas por ordem imperial no ano 720 da era Cristã, em trechos apropriados falam de um torneio de Chikara-Kurabe (competição de força), confirmados pela história do Judô de Kodokan.
Esta competição de Chikara-Kurabe foi realizada no sétimo ano do Imperador Suinin, 230 anos A.C. E historicamente vista como o começo da luta japonesa que poderia ser o Ju-Jutsu ou o Sumô, que se caracteriza como uma autêntica prova das Histórias do estado embrionário da prática do Ju-Jutsu e Sumô nos tempos mais antigos e recuados no Japão primitivo.
Os comentários e as crônicas vão se diversificando com relação que se pretende entender como a gênese do Ju-Jutsu, uma vez que aparecem nas crônicas medievais e até mais antigas, uma dúzia ou talvez mais de nomes diferentes como Yawara, Taijutsu, Wajutsu, Torite, Kogusoku, Kempô, Hakuda, Kumiuchi, Rhubaku, Koshi-No-Nawari etc. São numerosas as escolas, e cada uma delas se distingue das outras pelas diferenças dos próprios métodos. Muitas pessoas se tornam historiadores das lutas e começam a estabelecer diferenças colocando em cheque muitas vezes a incapacidade de problematizar historicamente os acontecimentos, cada um procura idealisticamente fortificar seu ponto de vista. O que nos parece mais relevante historicamente é a narração realística de todas essas escolas, o momento e os valores políticos da época e para que serviam. Elas foram e serão sempre aquelas que subsistiram e que são atividades físicas definidas como arte de ataque e defesa, algumas vezes sem armas, contra um adversário armado ou não, não havendo preponderância de uma sobre a outra.
O mais antigo texto a respeito da palavra Yawara aparece na literatura japonesa e está contido no “Konloku Monogatari”, livro dos contos antigos e modernos que foi escrito na metade do décimo primeiro século. Como a palavra Yawara foi mencionada naquele livro a propósito de um conto sobre Sumô, não se pode identificá-la com o Ju-Jutsu, é um documento interessante e digno de atenção dos historiadores de Judô.
No que todos porém são acordes é que foi no Japão que a atividade medrou, tomou consciência, colorido próprio, evoluiu e diversificou-se irradiando-se daí para todas as latitudes em que atualmente se incorpora aos processos de educação física e desportos.
É interessante, referirmo-nos a observação de SHIROBEI AKYAMA - fundador da escola Yonshin-ryu. Durante uma nevasca, notou ele que as árvores delgadas mas flexíveis, tão logo a neve se acumulava em seus galhos, fletiam-se, suavemente, deixando-a ao cair ao solo, voltando após à primitiva posição. Cediam, pois ao invés de resistir ao peso esmagador, e assim, mantinham-se íntegras.
Árvores fortes e troncudas resistiam por muito tempo, mas terminavam com os galhos fendidos ou arrancados do tronco, tão logo a carga se acumulava em demasia. Eis a NATUREZA a ensinar o princípio básico do Ju-Jutsu assimilado pelo Judô - NÃO RESISTIR ao esforço direto do oponente, mas CEDER aparentemente a fim de a posteriormente, obter superioridade definitiva.
Concluamos, pois, que o Ju-Jutsu, de fato senão de direito, é uma manifestação de cultura do povo nipônico, o qual nele reflete suas próprias características.
É também pacífico ter sido no período feudal daquele país, que os exercícios de luta de ataque e defesa, tais como a Esgrima - de Sabre e de Lança - a Arqueria, foram cultivadas e incrementaram-se sobremodo.
Paralelamente, desenvolviam-se e aperfeiçoavam-se sistemas de lutar inerte contra um adversário armado ou não. Tomavam eles vários nomes, tais como TAI-JUTSU, YAWARA, JU-JUTSU, etc., todos capacitando o praticante a obter êxito, desde que adquirisse um grau adiantado de conhecimento.
A arte do combate inerme como exercício guerreiro ramificou-se em várias escolas. Destas resultaram por evolução, até fins do século passado, dois tipos de atividades, a saber: O SUMÔ (luta corporal propriamente dita) a base de peso e força, tendo se orientado no sentido do espetáculo e como tal é ainda hoje talvez a mais praticada- e o JU-JUTSU, a base de habilidade, estratagemas e ardis, consagrada ao combate real.
Segundo o Bojutsu Ryûsôroku (crônica da biografia dos fundadores das diversas escolas de Ju-Jutsu que existiram antes da criação do Judô, são mais ou menos 20 escolas (Ryu). Tais como TAKENOUCHI-RYU, SEKIGUSHI-RYU, KYUSHIN-RYU, KITORYU e TENSHIN-SHINYO-RYU. As duas últimas escolas foram particularmente estudadas por Jigoro Kano, o fundador do Judô.
Havia não apenas um, mas vários tipos de escolas por assim dizer, e algumas especializavam-se em determinadas formas de combate, com certas características diferenciais, embora tivessem numerosas afinidades.
Os seus recursos consistiam em ações defensivas e principalmente ofensivas, tais como- derrubar com violência o antagonista, golpear ou bater com as superfícies fortes do corpo em pontos vulneráveis, prender ou imobilizar o adversário por torção, flexão forçada ou distensão de articulações que podiam causar dores atrozes ou mesmo morte por traumas ou compressões completavam o arsenal.
Durante o período Tokugawa (l603-1867) o Ju-Jutsu desenvolvera-se como uma arte bem elaborada, sendo ensinado por numerosos mestres habilitados, representantes credenciados das escolas que substituíram com o impacto do processo evolutivo.
Pouco a pouco, o nome de Ju-Jutsu vulgarizou-se a tal ponto que, mesmo quando era aplicado um golpe de TAIJITSU, YAWARA etc, o espectador a ele se referia como sendo um golpe de Ju-Jutsu.
Para melhor ilustração e dentro de nossa ordem de idéias, tracemos, em linhas gerais, o panorama social do Japão no período feudal - era do Shogunato lembrando que só a partir do século XVI (l542) os ocidentais travaram relações com aquele país, e que, em 1549, o então missionário jesuíta Francisco Xavier ali esteve, a serviço da fé cristã.
A sociedade era dividida rigidamente em castas: o Imperador, embora despido do poder temporal, era a mais alta personalidade, investido de poderes espirituais. A seguir, vinha o Shogun, uma espécie de Regente, que exercia o poder de fato, em virtude do seu poder militar. Os Daymios eram os senhores correspondentes aos Barões medievais, e deles saía o Shogun. Os Samurais, que constituíam cerca de 5% da população, eram uma casta de guerreiros a serviço dos Daymios, não podendo abandonar as suas terras embora não fossem servos; possuíam regalias especiais. Os que não serviam a determinado senhor eram chamados de Ronin, ou Samurais despedidos, sem emprego. Em tempo de paz, era dos Samurais idosos que saíam os encarregados dos serviços administrativos dos Daymiatos ou do Império. Em escalas inferiores os Ashigaru, os comerciantes que andavam a pé, os Kachi, os servos da gleba.
Em muitos aspectos, os “samurais” apresentam analogias com os espartanos, pela rigidez do seu modo de vida, e com os cavaleiros da Idade Média pela força dos ideais. Foram os Samurais que viveram o Ju-Jutsu e transformaram o exercício marcante da época em arte refinada por intermédio de seus instrutores.
Durante o período Tokugawa a arte dos samurais atingiu o apogeu mas, é mister que se acentue. Jamais dentro de uma rigorosa unidade de doutrina, visto que, mesmo em um sistema particular, os mestres tomavam caminhos diferentes no seu ensino.
É interessante falarmos um pouco mais a respeito desta casta que vivia submetida a uma disciplina férrea, tendo por anelo o aprimoramento crescente - físico e espiritual.
Muito contribui para este desígnio a doutrina Zen-Shu, ramo do budismo. Condicionava a própria salvação do crente a uma austera disciplina do corpo e da alma, desenvolvendo, assim, a vontade e o domínio de si mesmo que todo “samurai” possuía no mais alto grau.
A filosofia Zen incutia nos espíritos dos samurais a prática da serenidade, simplicidade, reforçamento do caráter e, sobretudo deu-lhe uma estabilidade emocional que se traduzia em uma calma imperturbável capaz de enfrentar todas as situações graves da vida, ou mesmo da morte.
Estas digressões por assuntos correlatos, mas básicos ao entendimento perfeito do fenômeno, leva-nos a uma pequena referência sobre o Bushido - via do Guerreiro - código ético - moral dos “Samurais”. Elaborado no período feudal japonês, visava arraigar sentimentos de honra, de dignidade, de intrepidez, de lealdade e de obediência. A força do guerreiro devia aliar-se à serenidade de um filósofo e à insensibilidade de um estóico. Preconizava uma vida de rusticidade, cavalheirismo, desprezo pela dor e sofrimento, respeito pelo superior, bondade para o inferior e auxílio generoso às mulheres, às crianças e aos velhos.
Uma de suas máximas diz- “A desonra é como a cicatriz na casca de uma árvore- longe de apagá-la, o tempo não faz se não aumentá-la cada vez mais”.
Os mesmos sagrados princípios e altos ideais da Cavalaria na história do ocidente medieval, com colorido e cunho local, guiavam pois os “Samurais”.
A sua arma era o sabre, as suas lutas eram as batalhas em campo aberto.
Assim como o Cristianismo foi o inspirador dos ideais dos templários da Cavalaria, a doutrina Zen-Shu o foi para o ânimo inquebrantável dos samurais, levando-os a suportar a dor e as contrariedades com resignação inaudita, não manifestando externamente o menor sinal de sofrimento por mais cruciante que fosse.

Decadência e renascimento do Jujutsu

Em 1864, o comodoro Matthew Perry, comandante de uma expedição naval americana, conseguiu fazer com que os japoneses abrissem seus portos ao mundo com o tratado "Comércio, Paz e Amizade". Abrindo seus portos para o ocidente, surgiu na Terra do Sol Nascente uma tremenda transformação político-social, denominada Era Meiji ou "Renascença Japonesa", promovido pelo imperador Matsuhito Meiji (1868-1912). Anteriormente, o imperador exercia sobre o povo influência e poderes espirituais, porém com a "Renascença Japonesa" ele passou a ser o verdadeiro comandante da Terra das Cerejeiras.
Nessa dinâmica época de transformações e inovações radicais, os nipônicos ficaram ávidos por modernizar-se e adquirir a cultura ocidental. Tudo aquilo que era tradicional ficou um pouco esquecido, ou melhor, quase que totalmente renegado. Os mestres do ju-jutsu perderam as suas posições oficiais e viram-se forçados a procurar emprego em outros lugares. Muitos se voltaram então para a luta e exibição em feiras. As lutas dos guerreiros samurais entraram em declínio e foram relegadas a planos inferiores. O exército foi formado pelo modelo ocidental, como a formação de quartéis e adoção de técnicas e armamento moderno.
Não tinha mais sentido preparar soldados com armamento dos samurais como arco e flecha, espadas, objetos pontiagudos em forma de estrelinhas com pontas envenenadas (shuriken), bastão articulado (Nunchaku), (Tonfa) Bastões de defesa com cabo e vários outros instrumentos usados na agricultura e que se transformavam em armas de combate, todas pertencentes ao (kobudo) estilos do manejo de armas. Somente os samurais lhes eram fieis, 1871 marca um rápido declínio das lutas do Budo e o Ju-jutsu não foi exceção . Os grandes mestres do Budo (samurais) e de todos os tipos de lutas foram obrigados a procurar outras ocupações, uns foram ensinar jujutsu para viver, outros foram para o exército ou para a polícia e até abriram pequenos Dojos para o ensino particular, muitos deles cometeram o suicídio por Haraquiri de tanto desgosto.


A ordem proibindo os samurai de usar espadas em 1871 assinalou um declínio em todas as artes marciais, e o ju-jutsu não foi uma exceção, sendo considerado como uma relíquia do passado. Como não era difícil acreditar, tempos depois surgiu uma onda contrária às inovações radicais. Havia terminada a onda chamada febre ocidental. O ju-jutsu foi recolocado na sua posição de arte marcial, tendo o seu valor reconhecido, principalmente pela polícia e pela marinha. Apesar de sua indiscutível eficiência para a defesa pessoal, o antigo ju-jutsu não podia ser considerado um esporte, muito menos ser praticado como tal. Não haviam regras tratadas pedagogicamente e nem mesmo padronizadas.
Os professores ensinavam às crianças os denominados golpes mortais e os traumatizantes e perigosos golpes baixos. Sendo assim, quase sempre, os alunos menos experientes, machucavam-se seriamente. Valendo-se das suas superioridades físicas, os maiores chegavam a espancar os menores e mais fracos. Tudo isso fazia com que o ju-jutsu gozasse de uma certa impopularidade, logicamente, entre as pessoas esclarecidas e que possuíssem um pouco de bom senso. O ju-jutsu entrava em outra fase de decadência.



JU-JUTSU TRANSFORMA-SE NO JUDO

Jigoro Kano (em japonês 嘉納治五郎) (Kanō Jigorō, Mikage, 28 de outubro de 1860 — 4 de maio de 1938) foi o fundador da arte marcial Judô e reformou o Ju-Jutsu.
Nascido em 28 de outubro de 1860, em Mikage, prefeitura de Hyogo no Japão, terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionário da marinha imperial, seus pais queriam que seguisse a carreira de diplomata ou político, mas Jigoro Kano preferiu o magistério, embora de personalidade marcante, possuía físico franzino, medindo 1,50 metros de estatura e pesando uns escassos de 48 kg, o que dificultava o seu ingresso na maioria dos esportes. Em 1871 com 11 anos de idade foi mandado para Tóquio para estudar o idioma inglês, então indispensável para o progresso em qualquer sentido e que, possibilitou mais tarde tornar-se professor e tradutor dessa língua e ainda montar sua própria escola em Tóquio, a Kobukan (escola de inglês).
Aos 16 anos, decidiu fortificar o corpo, praticando a ginástica, o remo e o basebol. Mas estes desportos eram demasiados violentos para sua débil constituição. Além disso, nas brigas entre estudantes, Kano era sistematicamente vencido. Ferido na sua qualidade de filho de um Samurai decidiu estudar o ju-jutsu. Os mestres do Budo, principalmente do ju-jutsu, motivo do interesse de kano, estavam quase interditados e aqueles que o faziam era como se o fizessem na clandestinidade. Uma vez que o aprendizado das lutas era desprezível, próprio dos desocupados e não visto com bons olhos, os mestres feridos na sua dignidade estavam como que escondidos em face do impacto e opressão da cultura européia e americana. Nessa época, Kano estudava numa escola privada de Estudos Britânicos perto do Bosque de Shiba, em Tóquio, e sonhava estudar ju-jutsu. Porém, não encontrava professor. Se dirigiu a Baizei Narai, velho cavalheiro do governo do antigo shogun e freqüentador da família Kano, que havia aprendido ju-jutsu com o grande mestre Imai da escola Kiushin-ryu. Jigoro implora para que ele o ajude em seu projeto e a resposta foi negativa - Imagine! Seria uma traição para com seu pai você aprender uma arte completamente vulgar- depois, você terá que levar a sério seus estudos e não deve perder tempo com coisas insignificantes. Sem outra alternativa, Jigoro apela para o guardião das terras de seu pai, Rijuji Katagiri e a resposta foi outra negativa. Este então, disse que jamais desobedeceria a seu pai, principalmente sabendo o que ele pensava sobre o ju-jutsu. Alguns anos depois, já na Universidade cursando a faculdade de letras, lhe foi recomendado um senhor chamado Teinosuke Yagi, que havia sido discípulo de Hachinosuke Fukuda. Yagi habitava uma pobre casa e ficou espantado quando Jigoro Kano lhe disse que queria aprender ju-jutsu. Respondeu-lhe que não compreendia como um estudante franzino queria aprender ju-jutsu. “Eu quero me desenvolver no ju-jutsu”, precisa Jigoro Kano. – Bom, nesse caso eu não posso porque não sei muito ju-jutsu para ensinar. Sou um simples encanador de ossos e consertador de luxações das articulações. Havia um decreto que facultava aos velhos mestres de lutas do Budo desempregados em relação às mudanças políticas de exercerem as funções de reanimador de síncopes e todas as manobras do Kuatsu, encanar ossos quebrados, consertar luxações e socorrer afogados. Todos eles, sabiam um pouco de jiu-jitsu. Finalmente, Yagi ficou muito satisfeito com a solicitação de Jigoro e o levou a Fukuda que foi o seu primeiro mestre onde trabalhava também Masachi Iso, da escola Tenshin-Shin’yo-Ryu.

Na verdade quem lhe ensinou os primeiros passos foi o professor Teinosuke Yagi. Posteriormente, em 1877, matriculou-se na Tenshin Shinyo Ryu, sendo discípulo do mestre Hachinosuke Fukuda. Em 1879, com a idade de 82 anos, Fukuda morreu e Kano herdou seus arquivos. Tornou-se em seguida aluno do mestre Masatomo Iso, um sexagenário que possuía os segredos de uma escola derivando igualmente do Teshin Shinyo Ryu.
O Tenshin Shinyo Ryu tinha em seu currículo Atemis(golpes traumáticos),chaves e estrangulamentos.Também haviam projeções,porém estas não eram muito desenvolvidas nesse sistema.Kano treinou esse sistema inicialmente com Hachinosuke Fukuda(que dava ênfase nas técnicas isoladas e incluía handori nos treinos,influenciando muito o modo com
que Kano desenvolveu seu método) e depois que este faleceu com Masatomo Isso(que só ensinava katás).Essa escola é a mesma que teve origem com Akiyamma,o médico que viajou até a China e conheceu o Ju-Jutsu.

Continuando o seu treinamento, Jigoro Kano torna-se vice-presidente da escola. Infelizmente, Masatomo Iso, morreu muito cedo e Kano novamente encontrou-se sem professor. Contudo Kano continuou a treinar intensamente, mas um bom professor lhe era indispensável. Foi então que procurou o mestre Tsunetoshi Likugo que lhe ensinou a técnica da escola Kito Ryu. Ele foi assim iniciado em outros segredos da Escola de Kito. No entanto, declara que jamais viu um estilo tão perfeito quanto do mestre Masachi Iso. Kano herda também os arquivos da Escola de Kito-Ryu.

O Kito Ryu era bem mais especializado em projeções,e vem desse sistema o desenvolvimento do Judô nesse setor.Haviam também técnicas de luta no chão no Kito Ryu,embora não fossem muito treinadas.Kano especializou-se nesse sistema que também dava atenção especial aos treinos livres(o que era exceção na época).O Kito Ryu iniciou-se no Japão com a chegada do sábio chinês Chen
Yang Penn(o mesmo que ensinou o Ju-Jutsu aos três Ronins).
A influência dos mestres Fukuda e Ikubo se fez sentir no Kodokan desde o inicio. Quando começou a lecionar em seu próprio dojo,Kano usava o currículo do Kito Ryu e Ikubo frequentemente visitava o templo Eishoji,aonde funcionava o Kodokan.

Como Kano até então só praticara sempre as lutas corpo a corpo, sempre usando roupas normais, a escola de Kito ensinou-lhe o combate com armadura. Pouco a pouco, Kano fez a síntese das diversas escolas ju-jutsu criando um sistema próprio de disciplina, continuando, no entanto a treinar com o mestre Likugo até 1885.
Jigoro Kano resolveu modificar o tradicional ju-jutsu, unificando os diferentes sistemas, transformando-o em um poderoso veículo de educação física.
Pessoa de alta cultura geral, ele era um esforçado cultor de juj-utsu. Procurando encontrar explicações científicas aos golpes, baseados em leis de dinâmica, ação e reação, selecionou e classificou as melhores técnicas dos vários sistemas de ju-jutsu, dando ênfase principalmente no ataque aos pontos vitais e nas lutas de solo do estilo Tenshin-Shinyo-Ryu e nos golpes de projeção do estilo Kito-Ryu. Inseriu princípios básicos como o do equilíbrio, gravidade e sistema de alavancas nas execuções dos movimentos lógicos.
Estabeleceu normas a fim de tornar o aprendizado mais fácil e racional. Idealizou regras para um confronto esportivo, baseado no espírito do ippon-shobu(luta pelo ponto completo). Procurou demonstrar que o ju-jutsu aprimorado, além de sua utilização para defesa pessoal, poderia oferecer aos praticantes, extraordinárias oportunidades no sentido de serem superadas as próprias limitações do ser humano.
Jigoro Kano tentava dar maior expressão à lenda de origem do estilo Yoshin-Ryu (Escola do Coração de Salgueiro), esta se baseava no princípio de “ceder para vencer”, utilizando a não resistência para controlar, desequilibrar e vencer o adversário com o mínimo de esforço. Em um combate o praticante tinha como o único objetivo à vitória. No entender de Kano, isso era totalmente errado. Uma atividade física deveria servir em primeiro lugar, para a educação global dos praticantes. Os cultores profissionais do ju-jutsu não aceitavam tal concepção. Para eles o verdadeiro espírito do ju-jutsu era o shin-ken-shobu (vencer ou morrer, lutar até a morte).
Diz a lenda que um médico e filósofo japonês, Shirobei-Akyama, estava convencido que a origem dos males humanos seria resultado da má utilização do corpo e do espírito. Deste modo partiu para estudos de técnicas terapêuticas chinesas, estudou o princípio do taoísmo, acupuntura e algumas técnicas de wushu, luta chinesa que usava as projeções, as luxações e os golpes. Quando Shirobei retornou ao Japão passou a ensinar seus discípulos o que havia assimilado do princípio positivo da filosofia taoísta, tanto na medicina como na luta, ou seja, ao mal ele opunha o mal, à força, a força. No entanto este princípio só se aplicava a doenças menos complexas como em situações fáceis de lutas, ao enfrentar um oponente mais forte não dava resultados. Assim, seus discípulos o abandonaram e ele perplexo retirou-se para um pequeno templo e por cem dias meditou. Durante este espaço, tudo foi colocado em questão, a filosofia chinesa ying e yang, a acupuntura e por fim todos os métodos de combate, na medida que “opor uma ação a outra ação não é vantajoso a não ser que a minha força seja superior à força adversa”. Certo dia quando passeava no jardim doa templo enquanto nevava, escutava os estalidos dos galhos das cerejeiras que se quebravam sob ao peso da neve. Por outro lado, observou um salgueiro que com o peso da neve curvava os seus ramos até que a neve era depositada no solo e depois retornava a sua posição inicial.

Sobre a criação de seu novo método o próprio Jigoro Kano esclarece:

"Muitas pessoas estão, sem dúvida, familiarizadas com os termos ju-jutsu e Judo, mas quantos conseguem fazer distinção clara entre eles? Aqui, explicarei os dois termos e por que o Judo veio ocupar o lugar do ju-jutsu.

As artes marciais foram praticadas no Japão durante o período feudal: como a lança, arco e flecha, esgrima e muitas outras. O ju-jutsu era uma delas, também, chamado Taijutsu e Yawara. Era um sistema de ataques que envolvia projeções, pancadas, cuteladas perfurantes e lacerantes, estrangulamentos, cotoveladas, joelhadas e imobilizações do oponente, bem como a defesa contra esses ataques.

Embora as técnicas do ju-jutsu fossem conhecidas desde os tempos mais primitivos, até a última metade do século XVI, o ju-jutsu não era praticado nem ensinado sistematicamente. Durante o período Edo (1603-1868) transformou-se numa arte complexa, ensinada por mestres de numerosas escolas.

Na minha juventude estudei o ju-jutsu com muitos mestres eminentes. O vasto conhecimento deles, fruto de muitos anos de pesquisa diligente e de ricas experiências, foi de grande valor para mim. Naquele tempo, cada indivíduo apresentava sua arte como uma coleção de técnicas e ninguém conseguia perceber o princípio diretivo fundamental que estava por trás do ju-jutsu. Quando eu encontrava diferenças no ensinamento das técnicas, freqüentemente, me via perdido e sem saber o que era correto.

Isso levou-me analisar um princípio básico no ju-jutsu, aplicado quando alguém ataca um oponente, bem como, quando ele o projeta.
Após fazer um completo estudo do assunto, pude distinguir esse princípio, que entendi como sendo universal: fazer o uso mais eficiente da energia física e mental. Com esse princípio no pensamento, eu fiz revisão de todos os métodos de ataque e defesa que aprendi, retendo somente aqueles que estavam de acordo com o princípio. Os que não estavam de acordo eu rejeitei e, em seu lugar, substitui por outras técnicas em que o princípio era corretamente aplicado. O corpo de técnicas resultantes eu chamei de Judo que é aquele ensinado na Kodokan para diferenciar do seu antecessor.

As palavras ju-jutsu e Judo são escritas com dois caracteres chineses, cada uma. O ju em ambas é o mesmo e significa "suavidade" ou "via de ceder". O significado de jutsu é "arte, prática". Do significa "princípio ou caminho", entendendo o conceito de caminho como sendo a própria vida. Ju-jutsu pode ser traduzido como "arte suave" e com a implicação de ter significado final, unicamente, de vencer o oponente. Judo é interpretado como o "caminho da suavidade". Como poderemos ver no próximo capítulo, Judo é mais que uma arte de ataque e defesa, é um estilo de vida. Kodokan significa, literalmente, "escola para estudar o caminho".

Para explicar o significado de "suavidade" ou "via de ceder", vamos dizer que um indivíduo se encontra à minha frente, cuja força é mensurada em dez unidades e que a minha força seja de sete unidades. Se ele me empurrar com toda sua força, seguramente eu me deslocarei para trás ou serei derrubado, mesmo que eu resista com toda minha potência, isto é, opondo força contra força. Mas, se ao invés de me opor a ele, eu me afastar na direção do empurrão, desviando meu corpo e mantendo o equilíbrio, meu oponente perderá seu equilíbrio. Enfraquecido por sua posição instável, ele será incapaz de usar toda sua força que estará, então, diminuída para três unidades. Tenho mantido o equilíbrio, minha força permaneceu como sete unidades. Nessa situação, estou mais forte que meu oponente, assim poderei derrotá-lo usando somente metade de minha força e guardando a metade disponível para outro propósito. Mesmo quando for mais forte que seu oponente, primeiro, é melhor se afastar. Assim procedendo, pode-se conservar sua energia enquanto esgota a de seu oponente.

Isso é apenas um exemplo de como derrotar um oponente pela via de ceder. Devido ao fato de muitas técnicas fazerem uso deste princípio que a arte foi denominada ju-jutsu. Vamos ver outros exemplos dos feitos que podem ser acompanhados com o ju-jutsu.

Supondo que um indivíduo se encontre à minha frente, tal como um tronco apoiado numa extremidade. Ele pode ser empurrado para frente ou para trás, a fim de ser desequilibrado, com um único dedo. No momento que ele inclinar para frente, se eu colocar meu braço em sua espalda e, rapidamente, deslocar meu quadril a sua frente, fazendo com que se torne um fulcro (ponto de apoio da alavanca). Para projetar o indivíduo ao solo, tudo que preciso fazer é girar meu quadril ligeiramente e puxar seu braço ou sua manga, mesmo que ele seja muito mais pesado.

Numa outra situação vamos dizer que eu tento produzir o desequilíbrio de um indivíduo para frente mas ele dá um passo adiante, com um dos pés. Ainda, assim, posso projetá-lo, facilmente, apenas pressionando a planta de meu pé logo abaixo do tendão de Aquiles, de sua perna avançada, uma fração de segundo antes que ele transfira todo peso sobre esse pé. Este é um bom exemplo do eficiente uso da energia, pois, apenas com um leve esforço, posso derrotar um oponente de força considerável.

O que fazer quando um indivíduo investe sobre mim e me empurra? Ao ser empurrado, se eu segurar seus braços ou seu colarinho com ambas as mãos, colocar a planta de um do pés contra a porção inferior do abdômen e deitar estendendo minha perna, posso fazê-lo dar rodopiar por cima de minha cabeça.

Por outro lado, supondo que meu oponente se incline para frente e me empurre com a mão, se eu ceder e agarrar na parte superior da manga de seu braço estendido, isso o fará desequilibrar. Se eu girar o corpo, rapidamente, para que a minha costa fique em contato com seu peito, e segurando com minha mão livre sobre seu ombro e me curvar, ele será arremessado sobre minha cabeça e cairá pranchado sobre sua espalda.

Como mostram esses exemplos, para arremessar um oponente, o uso do princípio de alavanca é, algumas vezes, mais importante do que simplesmente ceder. Além disso, o Ju-jutsu, também inclui outras formas de ataque direto, tal como pancada, ponta pé e estrangulamento e, nesse aspecto, a "arte de ceder" não traduz seu verdadeiro significado. Se aceitarmos o Ju-jutsu como a arte ou prática para a via de ceder, então devemos aceitar o Judô como sendo o caminho ou o princípio para chegarmos a essa meta através da verdadeira compreensão do uso mais eficiente da energia física e mental.

Em 1882, eu fundei a Kodokan para ensinar Judo e dentro de poucos anos o número de estudantes cresceu rapidamente. Eles vieram de toda parte do Japão e muitos tiveram que deixar os mestres do Ju-jutsu par treinar comigo. Consequentemente o Judo deslocou o Ju-jutsu e ninguém, em qualquer época, citou o Ju-jutsu como sendo uma arte contemporânea no Japão, embora a palavra tenha sobrevivido no estrangeiro."

Por suas idéias, Jigoro Kano era desafiado e desacatado insistentemente pelos educadores da época, mas não mediu esforços para idealizar o novo ju-jutsu, diferente, mais completo, mais eficaz, muito mais objetivo e racional, denominado de judô, e transformando-o num poderoso veículo de educação física. Chamando o seu novo sistema de judô, ele pretendeu elevar o termo “jutsu” (arte ou prática) para “do”, ou seja, para caminho ou via, dando a entender que não se tratava apenas de mudança de nomes, mas que o seu novo sistema repousava sobre uma fundamentação filosófica.
Em fevereiro de 1882, no templo de Eishoji de Kita Inaritcho, bairro de Shimoya em Tóquio, Jigoro Kano inaugura sua primeira escola de Judô, denominada Kodokan (Instituto do Caminho da Fraternidade), já que “Ko” significa fraternidade, irmandade; “Do” significa caminho, via; e “Kan” instituto.
A Kodokan estava localizada no segundo andar de um templo budista Eishoji de Kita Inaritcho, onde havia doze jos (jo medida de superfície, módulo de tatame). O primeiro aluno inscreveu-se em 05 de junho de 1882, chamava-se Tomita. Depois vieram Higushi, Arima, Nakajima, Matsuoka, Amano Kai e o famoso Shiro Saigo (Sugata Sashiro). As idades oscilavam entre 15 e 18 anos. Kano albergou-se e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante, o jovem professor não tinha dinheiro e o shiai-jo media 20m², mas a escola progrediu e em breve tornou-se célebre.
Evolução do Judô Kodokan

Durante alguns anos, o idealizador do moderno ju-jutsu atravessou uma difícil fase, principalmente pela quase ausência de recursos financeiros para a manutenção da academia.
Os mais temidos lutadores da época, impulsionados pela inveja, não se cansavam em desafiar os discípulos de Jigoro Kano. Houve muitos encontros memoráveis com o intuito de testar a eficácia do Judô Kodokan.
Os alunos do Kodokan tinham fama de serem imbatíveis. Por isso, eram insistentemente desafiados. Aqueles que conseguiam uma vitória sobre um dos alunos da Kodokan, na certa, cresciam em fama. A subida vertiginosa do Judô na preferência da população criou muitas rivalidades. Mestres de Ju-jutsu desafiavam o Kodokan quase diariamente, alegando que Kano havia deturpado a sua arte e acrescentado elementos estrangeiros. Para fazer frente a essas ameaças, o jovem Kodokan possuía um time de primeira, composto por antigos Mestres de Jujutsu que haviam se juntado ao Mestre Kano.
Entre essesseus alunos, quatro se destacavam: Tsunejiro Tomita, Sakujiro Yokoyama, Yoshikazu Yamashita e Shiro Saigo, chamados de Shitenno, "Os Quatro Senhores Celestiais", verdadeiros guerreiros que carregavam o nome do Kodokan em combates ferozes. Destes, o mais célebre era sem dúvida Shiro Saigo. Filho adotivo do Grande Mestre Tanomo Saigo, líder do Daito-Ryu Aikijujutsu, ele acabou rompendo com o Aikijujutsu para se juntar a Kano, revelando-se um dos melhores lutadores que o Japão já viu.
Um dos combates que ficou na história foi o de Shiro Saigo contra o mais temido cultor de ju-jutsu da Yoshin-Ryu, numa memorável luta, que parecia interminável. A propósito de Shiro Saigo, foi escrito um belíssimo romance de aventura, contando as suas proezas no judô, com o nome de Sugata Sanshiro, inclusive serviu de enredo a vários filmes.
Em 1886 a Polícia Metropolitana de Tóquio realizou uma competição para escolher o sistema marcial que seria utilizado pela polícia. Representantes de Ju-jutsu, Kenjutsu e de diversos outros estilos de artes marciais se apresentaram para os combates. Entre eles estava o grupo do Mestre Hikosuke Totsuka, do Totsuka-Ha Yoshin Ryu, feroz adversário do Kodokan. Mestre Totsuka era considerado o maior Mestre de Ju-jutsu do último shogunato, anterior à Restauração Meiji. Mas todas as atenções se concentravam nos representantes do pequeno Dojô inaugurado a apenas quatro anos.
No dia 11 de junho de 1886, no santuário Yayoi, os combates finalmente se desenrolaram. Lembramos que nessa época não havia ainda as regras competitivas, sendo cada combate uma luta total até que um deles não pudesse continuar. Tomita e Yamashita venceram suas lutas, enquanto Yokoyama empatava numa luta histórica que levou 55 minutos, sem pausa.
Dos "Quatro Senhores Celestiais", faltava ainda Shiro Saigo. Ele enfrentou Entaro Ukiji, do Totsuka-Ha Shinto Ryu, um verdadeiro gigante frente ao diminuto Saigo. Quando a luta se iniciou, Saigo foi agarrado pelo kimono e lançado no ar. Para espanto da multidão, deu um giro completo e caiu em pé. Ele então agarrou Ukiji e o desequilibrou, girando-o num pequeno círculo. Era o lendário Yama Arashi ("Vento da Montanha"). Este era um golpe que somente Shiro Saigo conseguiu realizar perfeitamente e que segundo alguns autores era derivado do Aikijujutsu, sendo sua marca registrada. Seu oponente aterrissou com um estalo nas costas. Não satisfeito, levantou-se tonto e tentou atacar novamente Saigo, que terminou o serviço.Dos 15 combates disputados, o Kodokan venceu 12 lutas, empatou uma e perdeu 2.
Essa aprovação pública foi o impulso que o Judô necessitava para galgar os altos degraus que a ele estavam destinados.
Após uma célebre competição, contra várias escolas de ju-jutsu, organizada pela polícia, que definitivamente ficou constatado o grande valor do Judô Kodokan. O resultado dessa jornada constituiu-se num marco decisivo na aceitação do judô, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o Judô Kodokan. Depois da célebre vitória de 1886, como ficou conhecida, o Judô Kodokan começou a progredir com passos confiantes.A fórmula técnica do Judô Kodokan foi completada em 1887, enquanto a sua fase espiritual foi gradativamente elevada até a perfeição, aproximadamente, em 1922. Nesse ano a Sociedade Cultural Kodokan foi inaugurada e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas Seryoku Zen’Yo (máxima eficácia) e Jita Kyoei (prosperidade e benefícios mútuos).
Em 1888 aconteceu outro campeonato do Departamento de Policia, houve a disputa entre o Kodokan e o estilo Tozuka-ha, do mestre Tozuka Hikossuke.Aconteceu dez lutas entre ambas as escolas, o Kodokan teve sete vitórias e três empates.Em conseqüências desses campeonatos o Kodokan elevou-se muito no conceito dos policiais em relação aos outros estilos de ju-jutsu, culminando com a contratação do Kodokan para dar aulas no Departamnto de Polícia.
Em 1897, quando a Kodokan estava instalada em Shimotomizaka, possuindo uma área de 207 tatames, o governo japonês funda uma escola nacional, que congregaria todas as artes marciais, a Butokukai.
Apesar de Jigoro Kano ter idealizado o judô, em pouco tempo a Butokukai tornar-se-ia uma respeitável rival da Kodokan. Posteriormente, as escolas superiores e profissionais da Universidade de Tóquio fundariam uma outra entidade, a Kosen. Como é fácil adivinhar, a Butokukai e a Kosen começaram a competir com a Kodokan. A Kodokan tinha perdido a sua hegemonia, por outro lado, era o judô que ganhava um maior número de praticantes.Jigoro Kano, com a finalidade de iniciar uma campanha de divulgação do judô, no ocidente, em 1889, visita a Europa e os Estados Unidos da América, proferindo palestras e demonstrações.



A origem do Ne-waza no Judo

No final da década de 1890, apareceu em Tókio Mataemon Tanabe, um mestre de uma escola bastante diferente de Ju-Jutsu, a Fusen-Ryu. A Fusen-Ryu era especializada ne-waza, luta de solo. Ao enfrentar os melhores do Kodokan, Tanabe usou uma estratégia diferente das outras escolas que tentaram antes (e que não tinham muita luta de chão). Ele não tentava lutar com eles em pé, mas já trazia "para a guarda" (do-shime) e no chão finalizava-os com chaves nas articulações e estrangulamentos.No Fusen-ryu ju-jutsu o ponto forte era a finalização. Aparentemente, eles também já treinavam técnicas isoladas e randori, só que mais no chão.
Foram feitos vários desafios entre o Kodokan e a escola Fusen-ryu, e o resultado era sempre o mesmo. Tanabe finalizando alguns dos melhores lutadores do Kodokan, inclusive o célebre discípulo de Kano, Hajime Isogai, O Kodokan, exatamente na virada do século, entre um desafio e outro, pôs-se a praticar técnicas de chão intensamente, com o que tinham e com o que não tinham. O que tinham vinha das escolas Tenshin-Shinyo-Ryu e Kito-Ryu, e não dava para enfrentar a escola de Mataemon Tanabe.
Procuraram ajuda na escola Takenouchi-Ryu, que contava com um bom currículo de ne-waza, incluindo, além das chaves e estrangulamentos, o trabalho de imobilizações. O último combate entre Isogai e Tanabe terminou, finalmente, empatado.
Na verdade Mataemon foi um dos poucos a vencer confrontos com o Kodokan, em matéria de ne-waza não havia confiança suficiente para enfrenta-lo de igual para igual, foi aí que Kaishiro Samura, Oda Tsunetame, Hajime Izogai e Suiti Nagoóka, empenhados em sanar essa falha, conseguiram finalmente melhorar consideravelmente o judô nessa forma de luta, inclusive, num desafio que veio a ser efetuado em Okayama, terra de Tanabe, em 1899, Hajime Isogai, treinado por Kaishiro Samura (samura era originário do estilo Takenouchi-ryu ju-jutsu, no Kodokan era o melhor nessa forma de luta) dominou completamente Mataemon Tanabe que, sem outra alternativa, com a luta já perdida, foge ao combate de forma comprometedora.Entretanto, o arbitro Katarô Imai, mestre de kito-ryu ju-jutsu, contra tudo e contra todos, declara empate.

Mas Jigoro Kano reconheceu que o eficiência da escola Fusen-ryu era o melhor para finalizações e convenceu Tanabe a ajudar a melhorar a parte de ne-waza do Kodokan. Algumas fontes dizem que Tanabe passou os antigos documentos técnicos da Escola Fusen-ryu ao Kodokan.
Jigoro Kano era uma figura muito importante no governo, ligado ao Ministério da Educação, e diversos mestres, de diversas escolas, aceitaram sua liderança, inclusive Tanabe, no livro Judo Kyohan, de Yokoyama, podemos ver Tanabe demonstrando algumas finalizações.
Foi assim que o ne-waza do judô se desenvolveu, através de desafios contra a escola de Fusen-ryu e com a ajuda da escola Takenouchi-ryu.

Em 1909, um fato marcante parecia devolver a hegemonia do judô a Kodokan. O governo japonês resolve tornar a Kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do judô estava tendo ótima aceitação.

OBS: Quando escrevo "jiu-jitsu", me refiro ao estilo praticado no Brasil que nasceu do judô.Já ju-jutsu é a maneira genérica de descrver os ryus (escolas)japonesas.


Agradecimentos :
Colaboraram com essa pesquisa, Pablo Peres e Flavio Almeida
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4 comentários:

Fantástico. Valeu!

Exelente matéria!
Parabéns!
Extremamente esclarecedor.

Exelente matéria!
Parabéns!
Extremamente esclarecedor.

Parabéns pelo Belíssimo trabalho de Pesquisa !!! :)