"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano
SENSEI KASTRIOT MEHDI Texto de Roberto Pedreira
Eu tinha passado pela ACADEMIA MEHDI DE JUDÔ na Rua Visconde de Pirajá,411, em I
panema mais vezes do que pudesse contar. Sylvio Behring recomendou-me que eu fos
se falar com o MEHDI, assim como outras pessoas. MEHDI sabe tudo. Ele está sempre por aqui.
Num final de tarde, a porta estava aberta e eu parei, MEHDI estava descansando no tatame. Eu me apresentei no corredor, mas ele já sabia que eu estava lá. Eu lhe disse que morava no Japão e que gostaria de saber como o JUDÔ era praticado no Brasil. Ele gostou.
KASTRIOT GEORGE MEHDI veio para o Brasil de férias da costa sul da França, perto de
Cannes. Ele tinha estudado o JUDÔ na França e queria continuar. Na época, havia JUDÔ em SÃO PAULO, na comunidade japonêsa, no RJ, o que mais se aproximava era o JIU-JITSU.
O lugar para aprender era o número 151 da Avenida Rio Branco, no centro. Era lá que
Carlos e Helio Gracie tinham uma grande academia. Ele se inscreveu.
Carlos, Helio, Robson, Carlson e os outros instrutores enfatizavam a luta no chão. Eles diziam que esta era mais efetiva e realista. Numa briga de rua ou situação de defesa pessoal, quatro coisas eram mais esperadas. Primeiro, o atacante seria mais forte. Segundo, ele estaria atacando. Terceiro, quem fosse atacado e machucado, tentaria agarra-se para escapar. E quarto, cedo ou tarde, um dos dois ou ambos iriam para o chão. O sistemaGracie era baseado nesta quatro premissas.
A interpretação do MEHDI era diferente. Os Gracie enfatizavam a luta de chão porque eles não sabiam aplicar quedas. Porque sujar as roupas , se isto não é necessário, di-
zia MEHDI.
A visão do MEHDI era que uma queda bem aplicada tornava a luta de chãodesnecessá
ria. E caso isto acontecesse, voce cairia melhor posicionado depois de jogar o seu opo
nente e colocá-lo no chão. Ukemi ou não, isto machuca.
Uma correta execução de uma queda também é bonita de se ter, MEHDI acreditava; considerando que ter alguém entre as suas pernas numa luta(para uma mulher numa situação dificil na rua, também é válido). Mas isto vem do treinamento de um artista marcial.
Romero Jacaré e seus alunos, Sylvio Behring e Rickson Gracie acreditavam que MEHDI tinha razão.
De qualquer forma, quando dois lutadores estão se medindo e as regras permitem à eles estar na guarda é invitável que isto aconteça, isto é uma questão de regras e não de técnicas, Sylvio diz e MEHDI concorda plenamente. São as regras que fazem o que o JIU-JITSU o que ele é e o que ele não é. É precisamente o que está errado. Esta é a questão.
Não era apenas a ênfase na luta de chão que incomodava MEHDI, era os próprios Gracie.
Lutar deitado. Eu não gosto disso. JUDÔ forma pessoas, não pessoas que brigam na rua.
Ele menciona a mentira dos Gracie que diziam que um campeão francês de JUDÔ estava aprendendo com ele. Ele era apenas um iniciante, não um campeão, diz MEHDI.
(Qualquer pessoa assistindo Gracie em Ação 1 e 2 pode ter detectado uma certa inclinação em exagerar as qualidades e habilidades dos oponentes de sua familia e seus representantes. Roryon descreve os caras que desafiaram à ele e seus irmãos(ou que aceitaram seu desafio)nos Estados Unidos, como mestres,experts, cam
peões, ou no mínimo instrutores. No Brasil, seus oponentes são chamados de palhaços.
Para MEHDI, o simples fato de chamar o seu estilo de JIU-JITSU, era cara evidência de desonestidade. É tudo JUDÔ, ele diz.
(MEHDI pode estar certo de que as técnicas do JUDÔ são realmente JUDÔ. O pessoal do JIU-JITSU é muito orgulhoso da estória do encontro de Carlos Gracie com MITSUYO MAEDA. Voce pode ver muitas teçnicas do JIU-JITSU nos filmes antigos do KOSEN JUDÔ,porém voce não verá nenhuma destas técnicas em nenhum dojô de JUDÔ. E o pior, é que voce não verá nestas filmagens e livros, como organizar estas técnicas.. É ái, que os brasileiros levaram o newaza à um nivel mais elevado).
MEHDI desistiu do Gracie JIU-JITSU e foi para o Japão imediatamente após o fim da ocupação americana em 1952. Entre outros, ele treinou com Kimura Masahiko, que tinha derro tado Helio ano anterior. Ele ficou 5 anos como aluno da Universidade de Tenry, em Nara.
A luta de kIMURA com Helio, foi uma brincadeira,diz MEHDI. kimura concordou em ficar até os 10 minutos parado, e em respeito ao dinheiro pago e apostado pela torcida, começaria a lutar a partir daí. MEHDI imita exageradamente a postura grosseira de Helio. 13 minutos de luta, Kimura finaliza Helio com uma chave de ombro, a qual os lutadores de JIU-JITSU chamam de KIMURA , em homenagem ao japonês(...não chame isto de kimura,o correto é ude-garami, ele corrige. Havia muita conversa para se alterar o resultado da luta,mas a embaixada japonêsa advertiu Kimura de que ele não seria bem recebido no retorno ao Japão, caso ele perdesse. Uma certa dose de coreo-
grafia deria aceita, mas perder para um estrangeiro seria demais.
Como outro exemplo da flexibilidade dos Gracie, com exatidão, MEHDI diz que Kimura pesava 80 kg e não 100 kg, como alguns diziam(Ele me mostrou uma fotografia do mo
mento da luta, eles pareciam ser da mesma altura e peso. MEHDI tem 1,75 e pesa 80
kg, por outro lado Kimura pesava 86 kg na sua última luta de JUDÔ em TOQUIO, em
1949. É possivel que ele tenha aumentado alguns quilos durante os dois anos entre
as duas lutas.
MEHDI, que recebeu o oitavo dan da KODOKAN em 1979, não é simplesmente uma enciclopédia de técnicas(de acordo com Cleiber Maia, faixa preta em JUDÔ e JIU-JITSU,
campeão brasileiro de WRESTLING FREE STYLE,ele era um competidor bem sucedido, pois
dominou o JUDÔ BRASILEIRO por anos.
Mike Swain visitou o dojô de MEHDI após vencer o mundial na categoria até 71 kg. Cam-
peonato em 1987(sua mulher era brasileira, do RJ). Swain, era por demais confiante.En-
quanto praticava uma queda, MEHDI corrigiu sua pegada. Swain ràpidamente convidou,
ou pràticamente desafiou MEHDI para um randori. MEHDI arremessou Swain várias vezes
ao chão e na parede(esta estória foi recontada por Sylvio Behring e Cleiber Maia; embora
ninguém pudesse dizer quem era o campeão americano de JUDÔ, MEHDI provou através
das palavras de Swain aos seus alunos,"VOCES NÃO SABEM A SORTE QUE TEM EM SEREM
ALUNOS DO PROFESSOR MEHDI, COM TODO CONHECIMENTO E TÉCNICA).
MEHDI estava relutante em falar sobre os Gracie. Não é segredo no RJ de que ele não gosta dos Gracie. Porque escrever sobre os Gracie, se há grandes campeões japoneses,
ele perguntou. Porque eu estou escrevendo sobre o BJJ, expliquei.. Mas porque? Pergun-
tou demosntrando perplexibilidade. Ele estava reticente em relação à ele próprio.Não era
porque ele não gostasse do JIU-JITSU, era porque ele gostava do Marcelo Behring(Marce
lo Behring era melhor na luta de chão do que o Rickson, dizia MEHDI. Sylvio dizia que isto
não era verdade. Voce tem que se lembrar, MEHDI adorava o meu irmão e odiava os Gra-
cie).
MEHDI adorava a mentalidade japonêsa. Eram muitas quedas, imobilizações, estrangu
lamentos e pegadas que ele ensinava. Mario Sperry dizia que não aprendeu apenas JUDÔ e JIU-JITSU com ele, aprendeu também respeito e honra.
Poderia ser a mentalidade brasileira que ele não gostava? Ele nega. Brasileiros são
indisciplinados(comparando com os japoneses quem não é....)mas MEHDI gosta deles.Ele não gostava dos Gracie, não gostava de sua mentalidade, pois mentem sempre.
Ele também acha que é ridículo um mero faixa preta ensinar algo a alguém. No Japão,um faixa preta precisa ter de 20 à 30 anos de experiência para poder ensinar. Eu não disse à ele que muitos faixas azul dão aulas de JIU-JITSU em muitos lugares. Não no RJ. Este era o ponto. No Japão,os professores tem de 20 à 30 anos de experiência porque existem muitos lutadores de JUDÔ, bons; o RJ é cheio de bons lutadores de JIU-JITSU. Eu suspeito que MEHDI não percebeu que um faixa preta de JIU-JITSU representa seis, sete ou mais anos de estudo, enquanto faixas preta de JUDÔ, no Japão, são agraciados rotineiramente em dois anos e as vezes em menos de um, no mínimo.
Embora MEHDI não gostasse dos Gracie, ele nunca se negou à ensinar seus descen-
dentes e alunos.
Além de Rickson e os irmãos Behring, Carlson Jr. Murilo Bustamante, Mario Sperry, Wallid Ismail, assim como tantos outros. De acordo com um instrutor de JIU-JITSU(tam
bém aluno de MEHDI)Rolls Gracie também aprendeu JUDÔ com ele. E MEHDI dividiu seus conhecimentos com a comunidade do JIU-JITSU. Considerou isto um privilégio(por treiná-los).
Onde está o seu gi? Ele perguntou. Eu estava cauteloso. O ju do JUDÔ representava gentileza, mas não há gentileza alguma em ser arremessado sobre a cabeça de cos-
tas, no chão ou na parede. De qualquer forma eu queria conhecer melhor o MEHDI, e
ele se mostrou interessado em me ter em sua aula. Eu aceitei.
Muitos me disseram que aulas do MEHDI eram intensas.O aquecimento já era suficien-
te para apagar qualquer um se este não estivesse em forma. Eu assisti uma aula para comprovar isto. De qualquer forma a aula foi de 6 às 8 e 30 hs e era bem estruturada. A primeira parte, 30 minutos, era de aquecimento. A segunda parte era o aprendizado de novas técnicas(ou a revisão destas). A terceira parte era o uchikomi e a quarta, o randori.
Este é o procedimento em todo o dojô de JUDÔ, em todo lugar. Isto leva cerca de 1 hora e aqueles que desejam ficar depois da hora podem permanecer e treinar aquilo que achar melhor. Pode-se chegar a qualquer momento. Em outras palavras, significa que voce pode evitar parte do aquecimento. Muitos chegam tarde e vão embora cedo. As crianças chegam cedo. MEHDI estava num banco conversando comigo, enquanto is-
so dava ordens e corrigia o posicionamento de alguns.O aquecimento era puxado por um faixa preta adulto. Quando o uchikomi começou, ele colocou uma joelheira. Eu peguntei. JUDÔ machuca?
Ele disse:_Sim...
Eu fui no dia seguinte, um pouco tarde(havia planejado visitar a academia do Alexan-
dre Paiva depois do treino e já imaginava ser convidado para um rola). O máximo que consegui foi evitar 30 voltas no dojô, mas isto já ajudou. MEHDI me apresentou a turma e disse que em minha homenagem seria uma aula especial. E perguntou-me o que eu queria aprender. Eu disse, newaza, especìficamente a técnica que eu vi no dia anterior um estrangulamento como contra-golpe à um seoi- nague do oponente.
MEHDI também demonstrou um estranghulamento bem doloroso,o qual Álvaro Barreto demonstrara dias atrás, e uma variação da KIMURA(ude-garami) que funciona mesmo que o seu oponente segure a própria faixa.
O que voce achou? Perguntou-me depois. Eu disse, impressivo e interessante, eu gosto
de newaza. Nagewaza é perigoso. Eu pensava no seu assistente faixa preta que utiliza-
va uma joelheira e um protetor para o ombro. Sim, MEHDI concordou, JUDÔ era perigoso
mesmo, mas eu amo.
Eu mencionei que planejava participar de um campeonato internacional para Masters e Seniors no final do mes, e perguntei à ele sobre dicas de como me safar sendo iniciante.
Ele me sugeriu umas variações de hiza-guruma e as praticou comigo.
Cleiber Maia, assim como Sylvio Behring, Café,Mario Sperry e Mark Swain estavam certos.
MEHDI sabia tudo.
Interessante este MEHDI.....
Fonte http://www.geocities.com/global_training_report/mehdi.htm
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