"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano

MASAHIKO KIMURA vs HÉLIO GRACIE Por Sensei Novais

4 comentários sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009 às 13:12 - Edit entry?

Navegando como sempre nas páginas da web, encontrei um texto falando sobre a história do judô,até aí nada de mais, mas oque me chamou a atenção foi a maneira em que o autor descreveu a luta entre Hélio e Kimura em 1955...interessante!
vejam a baixo...


MASAHIKO KIMURA (1917-1993).

No ano de 1917 nascia MASAHIKO KIMURA, JUDOCA que obteve o 5º DAN com apenas 18 anos e 7º DAN com 27 anos.

É interessante observar que KIMURA não se contentava apenas em exercitar-se de uma forma humanamente normal, considerando que levantava pesos extraordinários para o seu físico, uma vez que fazia 1000 (mil) pushups non-stops, quatro vezes por dia, ou, ao menos seis horas de exercício por dia.
Não satisfeito, ainda era conhecido como “MATADOR DE ÁRVORES”, uma vez que passava de três (3) a quatro (4) horas todas as noites, preferencialmente a partir das 00:00 hora, fazendo UCHI-KOMI (entradas) em árvores, testando as suas técnicas ofensivas e defensivas. Naturalmente, tamanho arrojo, determinação e saga causavam com algum tempo a morte das árvores, coisa que o fazia procurar outras em outro bosque ou local. Antes de entrar no mérito desta luta, preciso fazer umas preliminares:


1- A verdade geralmente nunca é aquilo que lhe dizem, mas aquilo que você constata;

2- Existem princípios filosóficos nas Artes Marciais, principalmente no Judô, que dizem o seguinte:


I Quem teme perder, já está vencido;
II O mais importante é competir (o resultado conserta-se amanhã);
III O judoka não se aperfeiçoa para lutar, luta para se aperfeiçoar;
IV Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário. Quem venceste hoje, poderá derrotar-te amanhã. A ÚNICA VITÓRIA QUE PERDURA É A QUE SE CONQUISTA SOBRE A PRÓPRIA IGNORÂNCIA.

Volto a dizer mais uma vez que não é nenhum desmérito perder, uma vez que, em uma luta, alguém ganha e alguém perde. A dignidade está na sobriedade de aceitar o resultado. Lembre-se que o adversário derrotado hoje, pode ser o vitorioso amanhã, contudo, o meu inconformismo é de ter sido enganado por quarenta (40) anos, só tendo conhecimento da realidade, quando já adulto, quando com meus próprios olhos vi uma luta que a imprensa nada valorou em relação a um ESTRANGEIRO e sim a um VERDEAMARELO.
Não terço tais comentários para diminuir qualquer atleta, muito menos um que é reconhecido pela sua bravura, entretanto, não me sai da cabeça o DAVI (Hélio) frente ao GOLIAS (Kimura), isto no sentido técnico, já que não havia entre ambos tal desproporção física e que a imprensa de forma enganosa inversamente divulgou valores. Esta última chegou a ponto de dizer que a vitória de KIMURA foi um equívoco, que o canto de Hélio jogou a toalha quando o mesmo estava em plena combatividade. Absurdo, uma vez que KIMURA girava em cima de Hélio como um peão em cima de um cavalo bugre, anêmico e a cada 60º graus de giro causava (aplicava-o) dolorosas técnicas de GRAPPLING. Durante a luta, segundo informações obtidas de fontes fidedignas, inclusive internacional, captada via internet, a contenda ocorreu na forma suscitada: Kimura jogou Hélio repetidamente com IPPON-SEOI-NAGE, OSOTO-GARI, HARAI-GOSHI, imobilizou, estabilizou, virou um peão grampeando com KUZURE-KAMI-SHIHO-GATAME, KESA-GATAME, imobilizou, tentou estrangular e finalizar com chave - SANKAKU-GATAME, posteriormente, aplicou OSOTO-GARI, grampeando mais uma vez através de KUZURE-KAMI-SHIHO-GATAME e, finalmente, foi finalizado (HÉLIO) através de uma chave de braço denominada UDE-GARAMI, tendo, em virtude disso, provocado a quebra do cotovelo do braço esquerdo do opositor.

Poderia KIMURA TER POSTO UM PONTO FINAL, GANHO DE FORMA RÁPIDA A PARTIR DO INÍCIO DO COMBATE, QUANDO O JOGOU E O IMOBILIZOU. Certamente por respeito a um público enorme de cerca de vinte mil (20.000) pessoas estando, entre o mesmo, o PRESIDENTE (DR. GETÚLIO VARGAS) e VICE-PRESIDENTE DO BRASIL, seria anti-ético ter vindo de tão longe (Japão) para competir e liquidar um adversário em poucos minutos, face a sua superioridade (QUE NÃO SE PODE COMPARAR). Assim, o mesmo aplicou todas as técnicas acima referidas e ao final, finalizou o adversário, satisfazendo os expectadores e público em geral que foram deleitar-se com um espetáculo de magno tamanho.












Os brasileiros estavam tão convictos da vitória do representante verde-amarelo, que os seguidores da família GRACIE levaram um caixão para o local de combate, para que o patriarca matasse KIMURA (isto naturalmente como símbolo), contudo, HÉLIO GRACIE precisava saber que cada um tem o seu limite e este subestimou o de KIMURA.

Ao final, ficou a última lição dada a um dos estilos de ju-jitsu, cujo grande mestre HÉLIO GRACIE é o patriarca. KIMURA É ÚNICO E NÃO EXISTIU OUTRO NA SUA ÉPOCA e este aluno de Dr. Jigoro Kano veio para mais uma vez RATIFICAR o seu novo estilo de Ju-jitsu - “O JUDÔ”.

Pondo um epílogo nas narrativas de ponta em que se encontraram mestres do Ju-jitsu, é bom observar também que o grande WALDEMAR SANTANA, aluno número 1(um) do mestre HÉLIO GRACIE E QUE O VENCEU EM UMA LUTA DE MAIS DE TRÊS (3) HORAS, TAMBÉM ENFRENTOU E FOI DERROTADO POR KIMURA.

Segundo o meu saudoso SHIHAN SHIZUKA KITAMI, o KIMURA, depois que deixou de fazer lutas livre e vale tudo, foi reabilitado pelo KODOKAN, tendo se tornado um dos professores (shihan) daquele instituto e também tendo sido mestre do meu mestre.

Texto retirado da página do Sensei Novais:
http://www.selfdefensejudo.com/pt/jigoro.html

Kimura, na sua auto-biografia, notou que quando ele entrou no estádio, ele viu um caixão.

"Eu perguntei o que era aquilo. E me disseram .Isto é para o Kimura, foi o Helio que trouxe."

Enquanto o mestre Helio Gracie imaginava enfrentar os 220 pounds (100 kg) do gigante Kimura, ele estava na época apenas com cerca de 187 pounds, ou seja, 85 kg, mas mesmo assim continuava fisicamente muito mais forte do que Helio Gracie. Ele arremessou o Gracie e finalmente prendeu-o com uma chave de ombro que é agora conhecida como Kimura ou ude-garame para os judokas, e quebrou o braço de Helio. O Gracie não bateu, mesmo escutando o barulho do seu osso quebrando. Kimura não conseguia pensar em mais nada a não ser em continuar com o movimento, e escutou o barulho do osso quebrando pela segunda vez antes que o córner de Helio jogasse a toalha.

A outra derrota, foi em 1955, foi para um dos seus melhores alunos e professor da sua academia, Waldemar Santana. Os dois tiveram um desentendimento em relação ao fato de Santana estar praticando pro-wrestler, fato este revelado por um repórter de jornal. A luta durou 3 horas e 45 minutos antes que o bem mais jovem Santana vencesse o que se acreditava na época, a mais longa luta de Vale-Tudo da história.

Esta derrota levou Carlson Gracie a uma série de lutas contra Santana para restaurar o nome da família, com Carlson vencendo a mais famosa luta em 03 de agosto de 1956, no Maracanã para um público de 40.000 fãs.
Muito legal o comentário do autor sobre a luta, isso me faz lembrar de um ditado no judô: "Kimura No mae Ni Kimura Naku, Kimura No Ato Ni Kimura Nashi."
"Ninguem antes de Kimura, ninguem apos Kimura"...
Abraços Elton

Yuki Nakai entrevistado pela Sherdog.com

1 comentários terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 às 06:27 - Edit entry?

Sherdog.com: Muito obrigado por tirar um tempo para conversar com a gente.


Yuki Nakai (Fotos): Sem problema.

Sherdog: Como você começou no SHOOTO? Que bagagem você tinha antes de competir lá?

Nakai: Eu nasci em Hokaido e depois vim morar em Tóquio. Eu lutava Judô e Wrestling antes, e eu sempre quis lutar MMA, e como o SHOOTO foi o primeiro estilo de luta total no Japao eu realmente quera lutar lá.

Sherdog: Quando você veio a Töquio?

Nakai: Na verdade foi Yokohama (cidade próxima a Tóquio). Eu vim em 1992.


Sherdog: Você foi para treinar?

Nakai: Sim, eu fui.

Sherdog: O que fez você se tornar um lutador profissional antes de tudo? Eu sei que você treinou com o Tiger Mask (Lenda do Pro-Wrestling japonês, Satoru Sayama).

Nakai: Era o meu sonho de criança. Eu sempre quis ser um lutador.

Sherdog: Antes do "Japan Vale Tudo", você era o campeão dos médios no SHOOTO, e então você foi escolhido pela comissão do SHOOTO para representá-lo. Você pode nos descrever a experência vivida no Japan Vale Tudo?

Nakai: O que eu achei do torneio?

Sherdog: Como voce estava se sentindo indo para lá? Rickson Gracie Estava no mesmo torneio. O que passou pela sua cabeça?

Nakai: Eu pesava 70kg (154 pounds) e todo mundo era maior do que eu. No Vale Tudo da época, não havia muitos lutadores técnicos, tirando a família Gracie, e o SHOOTO era tão popular quanto, na época. Eu confiava nas minhas habilidades e eu tinha bastante confiança de que poderia vencer.

Sherdog: Como você acha que lutar no SHOOTO antigamente se compara a lutar no SHOOTO de hoje?

Nakai: Eu lutei primeiro em 1994, então em ‘95, até as regras mudaram para o Vale Tudo, então eu tinha que fazer uma preparação para Vale Tudo. Antes disso, não havia chutes nem socos no chão. E Sayama mudou; eles queriam que o Vale Tudo fosse mais esportivo, por isso foram mudando-se as regras para se tornar um esporte mesmo.

Sherdog: Me desculpe a pergunta, mas eu sei que a sua primeira luta no Japan Vale Tudo tournament foi contra Gerard Gordeau, e você teve um acidente durante a luta. Gerard estava cutucando os seus olhos. Eu quero saber o que você estava sentindo no momento em que isso ocorreu e quais contusões voce obteve.

Nakai: Eu estava preparado caso Gordeau fosse usar algum tipo de "técnica suja", e de acordo com as regras, se você usasse desse artifício 2 ou 3 vezes você perdia a luta, Então eu esperava que ele perdesse por suas táticas. Eu achava que ia ganhar devido as infrações à regra.

Sherdog: Você se machucou com alguma das táticas de Gordeau?

Nakai: Eu não consigo ver com meu olho direito, até hoje. Perda total da visão nesse olho.

Sherdog: Você teve três lutas naquela noite do Japan Vale Tudo tournament. Você venceu as duas primeiras — uma através de chave de tornozelo e outra com uma chave de braço — e então você encontro na final Rickson Gracie. Você estava bem machucado devido as outras duas lutas, como você se sentia no momento de enfrentar Rickson Gracie?

Nakai: Ele tinha boa técnica, E eu usei bastante Judô e chão, e achei que deveria usar o meu jogo de chão para enfretar o Gracie. Eu estava bem confiante de que chegaria as finais e venceria o Rickson.

Sherdog: Depois de perder para Rickson, o que isso mudou em voce? O que você percebeu que deveria mudar no seu jogo?

Nakai: Rickson tinha técnicas superiores e eu estava um pouco surpreso porque ele era muito melhor do que eu pensava. Mas foi uma boa experiencia para mim entender o lutador TOP da época.

Sherdog: Eu soube que depois da luta contra Rickson decidiu começar a treinar jiu-jitsu, basicamente trazendo o estilo de volta ao Japão com você quando retornou. Então, qual foi o processo? Você começou treinando com quem? Quem te deu a faixa preta?

Nakai: Nos dois primeiros anos mantive minha cegueira no olho direito em segredo, pois na época as pessoas eram contra o Vale Tudo. Eu não queria que as pessoas pensassem que VT era um esporte perigoso. Eu me machuquei com técnicas ilegais; Eu não queria que o VT ganhasse uma má reputação. Eu tive que desistir da minha carreira porque eu não conseguia ver os socos vindo até mim. Depois disso, por um ano eu não competi. Na época os lutadores japoneses não eram TOPs, e perdiam muitas lutas, e então pensei, o que é preciso para vencer? Na época eu estava usando bastante judô, mas então eu comecei a pensar "OK, vamos tentar o jiu-jitsu", e então comecei a treinar com a faixa branca.

Sherdog: De quem você pegou a faixa preta?

Nakai: Da federação Internacional de BJJ.

Sherdog: Eu ouvi uma vez que você estava no Mundial, entre os faixa Marrom, ey acho que voce venceu ou ficou entre os primeiros. Depois daqui Carlos Gracie Jr. lh disse, “você nao deveria estar usando a faixa marrom, você já deveria estar usando a preta.” Então voce pegou sua faixa preta do Carlos Gracie Jr.? É verdade essa história?

Nakai: Toda vez que lutei com faixa marrom eu pedia aos organizadores “Posso lutar nessa competição com essa faixa?” e no Pan-Americano eles disseram que eu precisava da faixa preta, mas eu nao tinha um unico mestre — Eu tive um monte de instrutores mas nenhum mestre específico. Para mim, peguei a faixa da Federação.

Sherdog: Depois disso voce voltou ao Japao e criou a Federeção Japonesa de BJJ e as academias Pareastra, como você vê o impacto do seu trabalho?

Nakai: Eu achava que o BJJ era ideal para os japoneses.

Sherdog: Por quê?

Nakai: Japão é Judô. O básico do Brazilian jiu-jitsu é Judô. As pessoas que treinava Judô eram as mesmas que estava ensinando Brazilian jiu-jitsu. Claro, não é apenas judô [também] muito trabalho de chão. Mas as bases do Brazilian jiu-jitsu são as mesmas do judo, e para Vale Tudo é muito importante o trabalho de chão. E eu sabia que o BJJ seria popular no Japao. Então, quando criei meu dojo, claro, Nós tinhamos aulas de VT. Mas eu achava que deveriamos ter muitas aulas de BJJ também.

Sherdog: Abrir um dojo era algo que voce queria fazer a muito tempo?

Nakai: Eu pensava nisso desde que mudei para Yokohama. Então tive a idéia.

Sherdog: Quando você abriu a sua primeira academia, voce esperava que fizesse tanto sucesso? Existem muitas academias em seu nome, e a partir disso o jiu-jitsu se espalhou por todo o Japao. Na epoca voce tinha ideia do quao grande ia ficar?

Nakai: Eu tinha 100% de certeza de que ia ser grande.

Sherdog: Depois de todos esses anos, voce esta satisfeito com o sucesso?

Nakai: Claro, esta em todo o Japao. Mas eu acho que mais e mais gente vai se unir ao esporte.

Sherdog: Você é basicamente uma lenda e um campeão para muitos fãs de SHOOTO e lutadores, tanto dentro como fora doJapao, especialmente pela sua coragem mostrada no JVT. Entao aqui vai uma pergunta boba: Voce se sente como uma lenda?

Nakai: Eu nao sou uma lenda — é muito cedo. Sou um praticante de Jiu-Jitsu.

Sherdog: Voce percebe que tem fãs de todo o mundo, estrangeiros que gostem do SHOOTO na Europa e nas Américas?

Nakai: Eu fico grato que as pessoas saibam de mim. Dez anos se passaram e as pessoas ainda lembram de mim, fico muito grato.

Sherdog: Então, o que vem pela frente?

Nakai: Quero ser campeão mundial de Jiu-Jitsu.

Sherdog: E sobre o seu trabalho no japao com o jiu-jitsu, sua escola, o que queres atingir?

Nakai: Eu quero que meus alunos se fortaleçam e passem para o proximo nivel. Tambem pessoas normais que vem a escola de jiu-jitsu, se eles estao satisfeitos e felizes com o que estao fazendo, está bom demais pra mim.

A ARTE DO LANÇAMENTO

4 comentários sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009 às 14:08 - Edit entry?

Essa foto é de um livro de título A Arte de Lançamento, Marc Tedeschi. Weatherhill, 2001, hardcover, 207 pp. Weatherhill, 2001, é um livro que mostra muitas técnicas de judô que não podem ser aplicadas em competições, muitas dessas técnicas são usadas pelas polícias do mundo todo, são técnicas de controle com quedas e submissões.
Muitas dessas técnicas não são ensinadas nos dojôs desortivos por dois motivos, o primeiro é que não são técnicas permitidas em competições, a segunda é, por não ser técnicas permitidas em competições não existe um enteresse em aprende-las ou ensina´-las, muitas dessas técnicas estão no livro The complete Kano jujutsu.

Entrevista com o Sensei Okomura por Alex Fisher Aiki News número 86, Outono 1990 (Hemisfério Norte)

0 comentários domingo, 1 de fevereiro de 2009 às 11:33 - Edit entry?

O artigo que segue foi preparado com a gentil assistência de Alex Fisher.

Shihan Aikikai 8º Dan

O Shihan Aikikai Shigenobu Okumura desempenhou um papel significante no desenvolvimento do Aikido no pós-guerra. Nesta primeira de uma entrevista de duas partes, ele fala sobre seu treinamento inicial na Manchuria e suas experiências da guerra, enfatizando a importância do conceito do "Shu, ha, ri".

AIKI NEWS: Nós o entrevistamos da última vez há sete anos atrás, em 1983 (Aiki News número 58-59). Naquele tempo, nós não tínhamos um conhecimento profundo o bastante da história do Aikido para entender completamente tudo o que você nos contou. Desde então, nós temos nos encontrado e conversado com várias pessoas e eu acho que fizemos algum progresso em nossas pesquisas. Hoje, nós gostaríamos de perguntar mais algumas questões. Nós entendemos que sua mãe começou a praticar Aikido ates de você.

SENSEI OKUMURA: Correto, na Manchuria. Minha mãe estudou com Hoken Inoue (atualmente líder do [Shi'nei Taido]) e com o Sr. Aritoshi Murashige. Naquela época eu estava praticando Kendo e ainda não havia iniciado no Aikido. Como eu estava no quarto ano do ensino fundamental, deve ter sido em 1931 ou 1932.

Nós soubemos que o Sensei Inoue esteve na Manchuria, mas não sabíamos tantos detalhes relativos à sua estada. Inclusive, o fato de que o Sensei Murashige ficou um tempo por lá é algo novo para nós.

Parece que o Sensei Inoue estava ensinando no dojo da Polícia de Dairen, através de uma conexão com o Dai Nihon Budo Sen'yoakai e minha mãe iniciou no Aikido porque ela era um membro oficial da Fujinkai (sociedade feminina) do Budo Sen'yokai. Eu fui ver seu treino, mas eu não achei a arte muito atraente. O Sensei Murashige e o Sensei Inoue vieram juntos ao Dojo. O Sensei Murashige ensinou-me como manusear a espada. Ele tinha experiência real em matar pessoas com uma espada. Isso tudo aconteceu mais tarde, entretanto. Quando ingressei na Universidade de Kenkoku, o Aikido era uma das matérias do currículo regular. Por volta de 1940 o Sr. Inoue e o Sr. Shioda (Gozo Shioda, fundador do Aikido Yoshinkan) nos visitaram como Uke para o Sensei Ueshiba. Originalmente, o Sensei Rinjiro Shirata deveria ter vindo como o instrutor de Aikido em nossa universidade. Entretanto, quando o Sensei Shirata foi recrutado, ele foi substituído pelo Sensei Kenji Tomiki. Naqueles dias, o Sensei Tomiki era um instrutor para a Kenpeitai (polícia militar). Em 1936 ou 1937, Hideki Tojo era chefe de staff do exército do Cantão, na China, e tomou a liderança na prática do Aikido como um benfeitor, embora não houvesse contato direto entre ele e o Sensei Ueshiba. Embora o Sr. Tojo nunca aprendeu a arte diretamente do Sensei Ueshiba, ele a aprendeu por intermédio do Sensei Tomiki. Quando uma academia de polícia militar foi criada em Nakano, o Aikido tornou-se uma matéria regular no currículo escolar. Em 1941, Tomiki esteve lá com O-Sensei. Sensei Tomiki também ensinou em Daido Gakuin. Naqueles dias, mesmo que você se graduasse por uma universidade no Japão, você não poderia tornar-se um oficial público na Manchuria, a menos que tivesse estudado em Daido Gakuin durante seis meses ou aprendido Chinês durante um ano, assim como história e cultura da Manchuria.

Nós entendemos que houve uma demonstração na Manchuria em 1942 na qual o O-Sensei participou.

Gente graúda de cada uma das artes marciais Japonesas se reuniu para as comemorações do décimo aniversário da fundação da Manchuria e uma demonstração foi realizada. O Sensei Ueshiba participou dessa demonstração. Foi o Sensei Hideo Ohba quem serviu-lhe de Uke. O Sr. Fujimoto, que posteriormente faleceu na Sibéria, também serviu-lhe de Uke.

De acordo com a biografia de Hideo Ohba [Aikido News número 85-6], escrita pelo Sensei Fumiaki Shishida, o Sensei Ueshiba ficou furioso com o Sensei Ohba porque ele o atacou muito violentamente durante a demonstração.

No Aikido, usualmente os parceiros atuantes têm normalmente um acordo tácito. Entretanto, o Sensei Ohba atacou o Sensei Ueshiba seriamente, o que acabou dando um resultado positivo. Aparentemente, um professor de naginata chamado Sonobe [Hideo Sonobe, famoso mestre de Jikishinkage-ryu] elogiou o Sensei Ueshiba dizendo-lhe: "Esta demonstração dada por você hoje foi a melhor que eu jamais vi". Esse comentário fez com que o Sensei Ohba, que estava se sentindo como se o mundo inteiro estivesse contra ele, sentiu-se bastante aliviado. Naquela época eu era um estudante e assisti à demonstração. A demonstração foi tão séria como eu jamais vi. Eu poderia dizer que ela de maneira alguma teria sido previamente arranjada.

O Sensei Inoue também participou dessa demonstração?

Sim. Ele também serviu de Uke para o Sensei Ueshiba. A demonstração de Ueshiba durou mais do que dez minutos, eu creio. O Sensei Ueshiba não deu qualquer explicação como é feito hoje em dia. Isso foi porque a demonstração ocorreu na presença do imperador (da Manchuria) e outras artes marciais também deveriam ser mostradas. Nessa demonstração, o Sr. Tenryu (famoso lutador de sumo e aluno de O-Sensei) deixou o espaço da apresentação por último, carregando o bokken por ser o mais novato. Eu acredito que o Sr. Tenryu era um professor de Sumo na Universidade de Kenkoku. Nos seus últimos dias, o Sr. Tenryu escreveu sobre sua prática de Aikido em sua autobiografia. O pai do Sr. Fujita (atual secretário geral do Aikikai Hombu Dojo) trabalhou para o Shimbuden (o Budokan da Manchuria) naquele tempo e ele sabe sobre todos daqueles dias. Dentre aqueles que estão vivos até hoje, o Sr. Fujita (pai) é a pessoa que mais sabe sobre o período da Manchuria. Ele tem o maior conhecimento interiorizado sobre como o Sensei Tomiki veio a ser designado para sua posição na Universidade de Kenkoku.

Você nos contaria sobre o Dai Nihon Butokukai?

Para o Judo, a classificação de Dan era emitida concomitantemente pelo Kodokan e pelo Butokukai, então localizado em Kyoto. Muitas pessoas têm a classificação desses dois lugares, por exemplo Shodan Butokukai e Shodan Kodokan. O Sr. Tojo reuniu os dois em 1942 ou 1943 e assim as classificações Dan do Aikido passaram a ser emitidas também pelo Butokukai. O Sr. Minoru Hirai, que agora é o líder do Aikido Korindo, foi enviado ao Butokukai como um representante do Aikikai. Portanto, o Sr. Hirai recebeu sua classificação do Dai Nihon Butokukai.

E sobre o 8o Dan do Sensei Kenji Tomiki?

Ele o recebeu diretamente do Sensei Ueshiba. Quando nós éramos estudantes na Universidade de Kenkoku, Tomiki já era 8o Dan.

Nós entendemos que o Sensei Hideo Ohba era conhecido como braço direito do Sensei Tomiki.

Eu aprendi com o Sensei Ohba quando era estudante. O Sensei Ohba usualmente trabalhou como assistente do Sensei Tomiki. O Sensei Ueshiba vinha de Tóquio para a Manchuria uma vez por ano. Como eu nasci em Hokkaido, fui para Tóquio e permaneci lá para treinar e então voltei para Hokkaido e depois retornei para Tóquio e finalmente saí para a Manchuria. Eu sou de Otaru, em Hokkaido. Após a guerra eu visitei o Sensei Tokimune de Daito-ryu em Abashiri (Hokkaido) e ele gentilmente demonstrou técnicas para mim. Então ele falou comigo sobre o Sensei Ueshiba.

Nós entendemos que houve tempos em que a arte era chamada de vários nomes, como "Aiki Bujutsu", "Aiki Budo" ou "Tenshin-ryu Aiki Budo".

Houve um Dojo de Budo que era exclusivamente para o que então chamávamos de "Aiki Budo", no Shimbuden. Foi após 1943 que o "bu" foi descartado. Naquele tempo quando o Dai Nihon Butokukai foi estabelecido e quando ingressei na Universidade de Kenkoku, nós ainda costumávamos chamar a arte de "Aiki Bujutsu". Também houve um tempo em que a arte era chamada "Budo de Ueshiba" (Ueshiba Budo). Shinsaku Hirata escreveu um seriado que aparecia na revista "Boy's Club", publicada por Kodansha. Havia uma cena nesse conto onde um menino chamado Hiroshi arremessou um grande lutador Russo, usando uma arte chamada "Ueshiba-ryu". Esse conto também foi publicado em livro. Eu achei o livro num sebo, mas a um custo muito alto de ¥28.000. O Sr. Shinsaku Hirata também era um aluno de Aikido e era meu superior no Dojo de Ueshiba, mas foi morto num acidente de trânsito. Na seção sobre a Showayugekitai (Força Aérea de Showa), Hirata escreveu que Hiroshi, o principal personagem da estória que esteve no navio de guerra Takachiho, era um mestre em Ueshiba Budo. Este livro foi publicado em 1931 ou 1932. Depois de eu ler a revista "Boy's Club", eu vagamente me lembro de ter sido surpreendido em saber que havia uma arte maravilhosa que não fosse Judo. Eu nunca havia visto a arte até então. Aqueles eram dias de militarismo, quando desenhos populares como "Os Aventureiros Dankichi e Norakuro" eram usados para inflamar o patriotismo dos jovens e justificar a política expansionista do Japão.

Nós entendemos que o Sensei Ueshiba tinha algum contato com o Sr. Seyi Noma (fundador da editora Kodansha)

Ele também era um praticante entusiasmado. O Sr. Noma treinou Aikido tanto quanto Kendo no Dojo de Ueshiba. O Aikido teve um relacionamento muito amistoso com o Kendo enquanto mantinha algumas animosidades com o mundo do Judo. No meu caso, eu comecei Kendo antes do Aikido. Portanto, minha visão do Aikido é diferente daquela do Sensei Kenji Tomiki. O Sensei Tomiki começou primeiro com Judo. Os movimentos que nós usamos quando passamos um pelo outro ou nos esquivamos de um ataque oponente no Aikido tem muitos elementos em comum com os movimentos do Kendo. O Aikido é mais similar ao Kendo do que ao Judo. Em Judo, eles agarram-se pelos braços.

O Sensei Tomiki deu uma palestra-demonstração por volta de 1940 no Kodokan. Você pode nos contar algo sobre ela.

Correto. O que ele disse é que o Judo estava sendo arruinado. De acordo com a teoria de Tomiki, há dois tipos de Judo, quais sejam, o Judo Rikaku Taisei e o Kumitaisei. Ele sentiu que apenas um tipo de Judo (o Kumitaisei) estava sendo praticado no Kodokan. Eles se seguram entre si pelos braços enquanto praticando o Judo, mas quando os dois oponentes são separados, as técnicas simplesmente não funcionam. Portanto, é necessário praticar ambos Judo e Aikido para dominar o verdadeiro Judo. Essa era a teoria de Tomiki. Ele disse que o Judo moderno era apenas metade do Judo verdadeiro. Na casa do Sensei Tomiki haviam sempre retratos tanto do Sensei Ueshiba como do Sensei Kano em sua mesa.

Isso é interessante. Em nossa revista, nós temos serializado a autobiografia de Jigoro Kano. Em nossa última edição, Jigoro Kano estava crítico sobre o que o Judo daquele tempo havia se tornado.

O Judo que Jigoro Kano tinha em mente era mais abrangente. Parece que quando ele viu as técnicas do Sensei Ueshiba, o Sensei Kano comentou que essa arte era o Judo ideal. Ele não estava pensando no Judo somente em termos do Kumitaisei, mais em termos muito mais amplos. O Sr. Murashige disse que o Sensei Kano pagou por sua instrução no Dojo de Ueshiba por mais ou menos três meses. Quando ele foi questionado pelo Sensei Kano se já havia aprendido alguma técnica e respondeu que não, foi avisado que suas mensalidades não seriam mais reembolsadas. De qualquer forma, o Sr. Murashige foi também enviado para o Dojo de Ueshiba a partir do Kodokan. Embora o Sr. Minoru Mochizuki fosse um aluno-residente no Dojo de Ueshiba, foi o Sr. Murashige que posteriormente foi para a Manchuria. Após a guerra, o Sr. Murashige foi para Burma com o Sr. Kuroishi. Algum dia você deveria se reunir com o Sr. Kuroishi. Ele se graduou na Universidade de Takushoku.

Vocês foram capturados pelo exército Russo após a guerra?

Sim. Eu não retornei ao Japão até julho de 1948. No ano passado eu fui para a Sibéria para visitar o túmulo de meus companheiros de farda. Os Russos ainda comem pão marrom. Eu ainda acredito que a fonte de energia dos Russos é o pão marrom.

Você ficou detido no mesmo lugar que o Sensei Tomiki?

Não, o Sensei Tomiki ficou detido em Tashkent, enquanto eu fiquei num lugar chamado Biysk. Ficava ao sul de Novosibirsk. Era uma cidade bastante grande, onde havia uma fábrica de locomotivas e onde vivi por três anos. Eu estive nesta fábrica de locomotivas, assim como numa madeireira. Houve muitas pessoas mortas por tiros em tentativas de fuga. Nos era dado apenas 350g de pão marrom por dia e não havia jeito de podermos saciar a fome. Como Tomiki era um oficial de pagamentos, parece que ele não teve tanta dificuldade com alimentação.

Essa pode ter sido a razão pela qual ele pode trabalhar vários movimentos então.

Sim, Aiki Taiso (exercícios Aiki). Ele os tornou público assim que retornou ao Japão.

Você poderia nos contar mais sobre suas experiências durante a guerra?

Eu estava na mesma companhia que o Sr. Yokoi (Shoichi Yokoi que foi encontrado vivo em Guam muitas décadas após o fim da II Guerra Mundial) quando eu era um novo recruta. Era a 303a companhia. O Sr. Yokoi era um oficial e eu era um novo recruta. Por três vezes escapei da morte por um fio. A primeira vez foi em 30 de março de 1944. A 303a companhia estava parada em Guam, mas por eu ter anteriormente sido aprovado em um exame para tornar-me um cadete militar eu não estava lá. Todos os soldados da 303a companhia tiveram uma honorável morte, você sabe. A segunda vez foi quando eu não tinha que ir para Okinawa. Começando em 1944, foi decidido que todos os jovens da Coreia seriam recrutados aos 19 anos, como no Japão, e, portanto, nós, oficiais aprendizes, não fomos para Okinawa, mas ficamos na Manchuria para ser seus instrutores. Minha terceira escapada foi quando da invasão Soviética na Manchuria, em 9 de agosto de 1945. Por causa de um pacto de não agressão entre o Japão e a União Soviética, estava subentendido que o exército soviético não entraria em território Japonês até o final de 1945. Entretanto, o exército soviético violou a fronteira em 9 de agosto. Nossa companhia estava exatamente no meio da fronteira, então. Mas aconteceu de eu estar em Ryoyo, com a finalidade de receber algum treinamento por lá. Portanto, naquele momento eu não estava na fronteira.

Eu tive sorte. O destino é realmente misterioso, você sabe. Após a batalha de Okinawa, a guerra veio para a ilha de Saishu (Cheju), porque ela era uma ponte entre o continente e o Japão. Portanto, o exército Japonês mudou a área que eles estavam vigiando e decidiram que eles iriam defender apenas o norte do paralelo 38, embora até aquele momento eles tivessem coberto até o norte de O-Ryoko. O exército Coreano focou a ilha de Saishu. Foi assim que ficou-se decidido pelo paralelo 38. Depois da Guerra, a área que o exército Japonês estava vigiando foi tomada pela União Soviética e o sul do paralelo 38 ficou controlado pelos Estados Unidos. O paralelo 38 foi originariamente usado para especificar as linhas de defesa do exército Japonês. Dessa forma, nós causamos um tremendo problema para a Coreia. Através da conferência de Yalta, os Estados Unidos souberam de antemão que a União Soviética planejava invadir o Japão. Foi por essa razão que os Estados Unidos jogaram uma bomba atômica no Japão, com o objetivo de controlá-lo antes que a União Soviética chegasse. Assim sendo, é possível que se eles jogassem a bomba atômica após 9 de agosto, a União Soviética poderia já ter invadido o Japão. Eu sei que isso é algo terrível de dizer, considerando todo o povo de Hiroshima, mas... em 15 de agosto após o término da guerra, os Soviéticos tomaram apenas o setor norte do Japão. Esse é o motivo do Japão ter se tornado o que é hoje. A União Soviética não entrou no Japão após a guerra porque Chiang Kai-shek disse a ela para não levar seus soldados dentro do Japão, pois ele também não deixaria que os soldados Chineses o fizessem. Devemos ser gratos a Chiang Kai-shek por isso. Se os Soviéticos tivessem entrado no Japão ao invés dos americanos, poderíamos ter experimentado o mesmo destino de Berlim.

Em nossa última entrevista você nos falou sobre "Shu, Ha, Ri." Poderia nos dizer mais sobre essas idéias?

Esses são os três estágios do treinamento, isto é, manter (shu) o kata (forma), quebrar (ha) o kata e afastar-se ou libertar-se (ki) do kata.

Esses conceitos se aplicavam da mesma forma às tradicionais artes marciais Japonesas?

Sim. Esses conceitos não se aplicam só às artes marciais como também a todos os ensinamentos no Japão. Eles são os três estágios de qualquer tipo de prática. Eu acho que disse a você dessa última vez, mas um alemão chamado Nietzsche (filósofo Friedrich Nietzsche, 1844-1900) explicou a mente humana usando metáforas e descreveu o primeiro estágio como um camelo, o segundo como o Leão e o último estágio como um bebê. No primeiro estágio, como um camelo, você deve atravessar um deserto durante uns 30 ou 40 dias, sem ter o que comer ou beber. Em outras palavras, é um período severo de testes de perseverança. Esse é o estágio do "shu", de manter a paciência. O próximo estágio, "ha", significa quebrar. O terceiro estágio é para alcançar o estado de ser como um bebê, que é completamente íntegro e puro. Um bebê é perfeitamente livre. As coisas são iguais no ocidente. Entretanto, Nietzsche era tido como ateu no mundo filosófico do ocidente. Não era um cristão. Entretanto, em minha opinião, ele teve um modo de pensar muito oriental. Os termos shu, ha, ri vieram de termos Zen, você sabe. Portanto, o melhor estado é ri, para separar de alguma coisa. Você vive uma vida despreconceituosa. Assim, se você é um iniciante ou está numa classe iniciante, você tem que imitar o kata com precisão. É exigido de você que repita uma forma padrão muitas e muitas vezes, o que é muito duro. Então você passa pelos níveis do Kyu e então para o nível da escala de Dans, quando terá entendido as formas do kata. Aí então é o momento de você trabalhar sua individualidade. Todo mundo, grande, pequeno ou alto, deve exibir individualidade, o que significa uma cisão do que você aprendeu anteriormente. Você continua a fazer isso até cerca do 4o ou 5o Dan. Aí você alcança um nível ainda mais alto, tornando-se verdadeiramente livre. Quando você se movimenta, você pode executar uma técnica sem tê-la pensado em sua mente. Entretanto, no caso da educação na Europa, a individualidade é enfatizada desde o começo. Há poucos casos em que as pessoas começam a aprender com Kata.

Eles são livres para fazer o que quiserem desde o início.

Sim, desde o início, de acordo com o método educacional Europeu. No pós-guerra o Japão foi influenciado pelo sistema educacional Americano e, portanto, as pessoas falavam sobre respeitar a individualidade. Só que isso caminhou para extremos. Modos e coisas como essas estão se deteriorando agora. Shu, ha e ri são os três estágios de treinamento em todos os atos ou michi (caminho). Esse "caminho" é usado no sado (cerimônia do chá), kado (arranjo de flores) e no kyudo (arquearia japonesa). No Japão, as pessoas buscam pelo "caminho" através de técnicas. Essa é a forma como nós japoneses pensamos.

Gostaríamos de indagá-lo sobre o Doka (poemas) do Sensei Ueshiba.

Eles existem desde antes da guerra, eu acho. Há poemas que foram escritos antes e depois da guerra. O Sensei Ueshiba estava sempre escrevendo poemas em um pequeno caderno. Eu não sei quem pegou esse caderno. O-Sensei o tinha com ele até a sua morte.

As versões publicadas do Doka parecem ignorar muitas referências ao Kojiki, mesmo estando o Sensei Ueshiba sempre aludindo a ele.

Há na verdade alguns Doka que contêm referências ao Kojiki. Entretanto, o modo como o Sensei Ueshiba entendeu o Kojiki era fortemente influenciado por Onisaburo Deguchi, da religião Omoto. O Kojiki pode ser considerado análogo à bíblia. Pode ser interpretado de várias maneiras, dependendo de cada indivíduo. Assim, embora sua interpretação do Kojiki tenha sido intensamente influenciada pelo Sr. Deguchi, na minha opinião também não era exatamente da mesma maneira que a dele. Havia pontos diferentes, mas a influência era significante.

Nós ouvimos que o nome do Sensei Ueshiba aparece na grande obra multi-volumes entitulada Reikaimonogatari (estória do mundo espiritual), a qual o Sensei Deguchi escreveu. Você sabe algo sobre isso?

Eu não sei muito sobre o Reikai Monogarati. É uma obra muito volumosa. Eu fico imaginando se alguém já leu a coisa toda; tem mais de 70 volumes. Eu duvido que alguém da religião Omoto já leu todos eles. Eu não sei se o nome do Sensei Ueshiba aparece neles ou não.

Sensei, você explicaria a concepção do Sensei Ueshiba do kotodama numa linguagem simples que todos pudessem compreender?

Bem, no kotodama acredita-se que os espíritos habitam as palavras da linguagem. No Shinto Japonês todas as pessoas pensam dessa forma. Não era só o Sensei Ueshiba que acreditava nisso. Você conhece a antologia de poemas chamada Man-yoshu. Acredita-se que os espíritos habitam esses poemas. Esse é o porquê dos Japoneses pensarem tão altivamente sobre o waka (poemas Japoneses de 31 sílabas). No ocidente também, eles também acreditam que as palavras têm espíritos, não é mesmo? De qualquer modo, no Japão nós temos a mesma idéia e essa é a razão de tanto valorizarmos o waka.

Espíritos, alma e vibração têm algo a ver com isso... Digo, as vibrações dos sons quando você entoa palavras...

São vibrações, não são? Quando nos comunicamos, nossas vozes vibram. Eu penso que o Sensei Ueshiba tinha uma vibração especial. Quando treinávamos com o Sensei Ueshiba, seus olhos repentinamente pareciam diferentes, o que significava que ele tinha adentrado em um mundo conceitual totalmente diferente. E então repentinamente ele retornaria ao mundo normal. Quando isso acontecia com ele, suas técnicas eram totalmente diferentes, em um nível totalmente diferente.

Você quer dizer técnicas divinas?

Exatamente. Coisas como essas não acontecem somente no Aikido, mas também com Noh e Kabuki. Os atores vestem as máscaras, que são "persona" e olham a si mesmos no espelho durante um tempo. Eles realmente se tornam a persona representada pela máscara. Só então eles sobem no palco...

É como hipnotismo...

Ë um auto-hipnotismo. Após sair do palco, eles voltam para seus "eus" normais. O Sensei Ueshiba algumas vezes esteve naquele estado quando executava técnicas uma seguida da outra. Eu poderia dizer só de olhar para ele.

Perfil de Shigenobu Okumura
Nascido em Hokkaido em 1922. Estudou na Universidade Kenkoku na Manchuria, onde ele iniciou seus estudos de Aiki Budo sob orientação do Sensei Kenji Tomiki. Uniu-se ao Aikikai Hombu Dojo no início dos anos cinqüentas e é agora Shihan 8º Dan. Autor de um livro entitulado "Aikido". Foi agraciado como o prêmio Budokorosha pelo governo Japonês em 1987. Endereço: Aikikai Hombu Dojo, 17-18 Wakamatsucho, Shinjuku, Shinjuku-ku, Tokyo 162 Japão. Telefone: (03)203-9236.







http://www.aikikai.org.br/ent_okomura.html