"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano

O Judô Moderno Prof. Ms. Odair Borges


Os princípios que inspiraram o Prof. Jigoro Kano na idealização do Judô, faziam parte de seu plano grandioso para desenvolver e promover a educação física integral, com base no ideal que defendia, chamado de principio das três culturas: intelectual, moral e física. Dizia ele que a importância da educação estava assentada na harmonia desses três aspectos do comportamento humano e propagou ao mundo a importância de orientar os praticantes de Judô, não apenas como uma simples luta de atividade e movimento, mas também a vivência de experiências que possam envolver os componentes emocionais, comportamentais e intelectuais. Uma das principais características na pratica do Judô é e sempre foi o uso pleno da sinceridade. Sinceridade consigo mesmo, de estar com o adversário nas mãos e procurar fazer um Judô sério, íntegro, limpo e sem vaidades, com o propósito principal de beneficio próprio e do companheiro. A denominação “DO” implica num forte elemento filosófico, é o “caminho” a ser seguido com o propósito principal de atingir a perfeição técnica com disciplina espiritual.Quando estamos praticando devemos ter consciência do bem que estamos fazendo a nós mesmos ao nosso companheiro de treino, ao nosso adversário e aos que assistem. O treinamento sincero, duro, sacrificado se constitui numa pratica para alcançar um nível de consciência que leva o praticante a um estado de euforia e um completo domínio da mente sobre o corpo. Prof. Jigoro Kano orientava que, “durante a prática ambos devem estar atentos na procura de uma posição mais favorável para a execução da técnica perfeita. Temos que decidir rapidamente e agir prontamente, ou perderemos a oportunidade de atacar ou defender. Essa atitude mental na busca de meios para o ataque e a defesa tornará o praticante, sério, cauteloso, decidido, com um grande poder de concentração e, sempre consciente de seus atos. Habituado a esse tipo de atitude, o praticante estará desenvolvendo um alto grau de disciplina e equilíbrio mental, que virá a ser um meio para construir uma identidade intelectual, moral e profissional, ou seja, crescer como indivíduo em beneficio da sociedade”.

O importante é que toda ação deve ser realizada como uma manifestação da razão e não como um mero feito de força física. Atualmente não é essa a preocupação com o Judô moderno, cuja tendência é para um Judô egocêntrico ignorando os valores intrínsecos do “DO” (caminho). Estão sendo atendidos apenas aspectos superficiais do treinamento e entretenimento, em lugar da busca do desenvolvimento espiritual e aperfeiçoamento técnico. O verdadeiro judoca tem o dever de seguir os princípios filosóficos e educacionais preconizados pelo Prof. Jigoro Kano, em cada detalhe de sua vida, na pratica do Judô, no trato com a família, nos estudos, no trabalho e no convívio social do dia a dia. Estamos vendo mais a procura pelo prestigio pessoal, do que a demonstração de superar-se ou de vencer a si mesmo.A simples execução técnica, no que diz respeito à mecânica do movimento, está sendo mais importante que, a busca, a atitude mental, e a sinceridade para com os objetivos do Judô. Modificações nas regras levaram o atleta a procurar vencer através de provocar o adversário a cometer penalidades. Atletas, “professores”, técnicos e dirigentes gesticulam para os árbitros em favor de penalidades que lhes favoreçam, ou então comemoram acintosamente, vangloriando-se de vitórias conseguidas através de penalidades, ou por uma simples decisão dos árbitros. Apesar de Ippons de excelente nível técnico de alguns atletas, nos Jogos Pan-americanos, também vimos cenas de técnicos(as) e atletas em acessos de descontrole emocional tanto nas vitórias como nas derrotas. Esse tipo de atitude acaba por influenciar atletas, confundir os árbitros e incitar o publico aos atos de vandalismo. Na minha opinião são atitudes que só faltam com o respeito ao adversário, que já pela própria derrota, está em situação de constrangimento, desconforto e abalo emocional. Devemos ter consciência de que sem o adversário jamais poderíamos ter um vencedor. Quanto a qualidade técnica, não existe mais a preocupação em vencer buscando a técnica perfeita; o Ippon! Não é mais necessário, nem tentar o Ippon! Durante o treinamento parece ser suficiente orientar e praticar somente as técnicas para arremessar o adversário sentado ou sobre os joelhos, se é que podemos chamar isso de técnica. Nos treinamentos não se praticam mais os fundamentos, tão importantes em qualquer modalidade, para os desenvolvimentos cognitivos, técnicos e físicos do atleta. Em competição, até campeões de todos os níveis, iniciam uma luta em disputa pela pegada que é um contra-senso, pois o judogui foi criado para que você tenha o adversário nas mãos. Acontece que no treinamento também não se faz pegada e na competição muito menos, ninguém segura ninguém e quando segura, ou não consegue sustentar ou desfaz a sua pegada para anular a do adversário, e desse modo fica impossível de se ver Judô. As lutas do “moderno Judô” se desenvolveram através de um agarra-agarra mais parecidas ao Wrestling, influenciando na orientação da arbitragem e na atitude dos árbitros, que muitas vezes por falta de vivencia, conhecimento e prática, aceitaram e se adaptaram a um tipo de luta que prejudicou o Judô. A competição acabou impondo limitações para o progresso técnico e o desenvolvimento pessoal, e continuando assim, o Judô acabará perdendo sua essência. Muitos atletas excelentes competidores, deixam a desejar como conhecedores e praticantes do verdadeiro Judô, o mesmo acontecendo com professores que ensinam seus alunos a competir e não a praticar, lutar e viver o Judô, o que nos deixa preocupados com o futuro. Não creio, que seja minha, a única voz de contrariedade e insatisfação com o Judô competitivo que está sendo apresentado. Em ocasião anterior, pelo menos vinte anos atrás, em reunião da Comissão Técnica da C.B.J. essa minha preocupação foi severamente criticada pelo presidente na época. Na sua contumaz verborragia destrambelhada, expeliu; “o importante para a Confederação e o Comitê Olímpico são as medalhas”. Se os dirigentes do Judô no mundo estão pensando do mesmo modo, então estamos no caminho para a descaracterização do Judô. Ainda penso que são preocupações, com necessidade de serem compreendidas, avaliadas, e analisadas.

Tenho consciência que propostas implicam em mudanças nas regras, mas não quero apenas criticar e sim tentar colaborar apresentando algumas sugestões para estudos, discussões, criticas e argumentações.

Arbitragem
1- Árbitros deverão durante os cursos específicos em qualquer nível, fazerem também, prática de “Nague Waza” e “Katame Waza” em ne waza para facilitar suas avaliações.
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2- Deverão ter conhecimentos técnicos, claros e específicos das principais técnicas de competição e suas variações
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3- Conhecimento das técnicas e desenvolvimento da luta no solo (Ne Waza) para que não sejam interrompidas quando o atleta está em trabalho progressivo para o encaixe de uma chave, estrangulamento ou imobilização. Acontece muitas vezes o árbitro por falta de conhecimento, receio ou inexperiência prática, interromper posições reais de habilidade técnica.
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4- Para fins de estudo e pesquisa realizar lutas com os 3 árbitros dando pontuações e penalidades simultaneamente evitando a passividade dos laterais e a indução sugestiva do árbitro central. (inicialmente essa regra poderia começar a ser aplicada no Golden Score, como citado abaixo).
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5- Árbitros, principalmente laterais, não discordam de avaliações e penalidades aplicadas pelo central, muitas vezes porque o central é mais graduado ou é um árbitro internacional,ou simplesmente ter a postura “o central que decida” , “pra que discordar” ? ou também, por estarem sob a pressão de uma avaliação pela Comissão de arbitragem seja em nível estadual, nacional ou internacional.

Golden Score:
1- Durante o Golden Score os árbitros darão as pontuações e penalidades ao mesmo tempo para evitar que só o árbitro central tenha a decisão final da luta.
(No golden score essa medida serve de pesquisa e laboratório para a possibilidade de modificação na arbitragem geral das lutas de Judô. Tem acontecido muitas vezes os árbitros laterais deixarem a luta ser administrada somente pelo central eximindo-se de concordar, anular, pontuar ou penalizar os atletas durante o combate.)
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2- No Golden Score não serão validas as penalidades como critério de vitória e sim apenas como uma pontuação negativa cumulativa, que em caso de não haver pontuação técnica, será computada até o final do combate, para decidir a luta. Serão válidas para finalizar a luta somente pontuações técnicas acima de Yuko (inclusive). Pontuações como “Koka” não serão sinalizadas, apenas serão computadas como “vantagem”.

Penalidades:
1- Penalidades para posições defensivas como, por exemplo: Em atleta(s) abaixado(s) com o quadril para traz, ou por não combatividade, poderão ser aplicadas sem interrupção da luta, apenas com a sinalização do gesto e voz do árbitro.(o árbitro de frente para o placar indicaria o lado penalizado ou tocaria o(s) atleta(s) penalizado(s).
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2- Penalidades para saídas da área de luta também poderiam ser aplicadas sem interrupção da luta, apenas com sinalização do gesto.
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3- Penalidades para atletas que viram de costas e permanecem nessa posição para evitar a luta no solo.

Falso ataque: por ser muito subjetivo dificilmente um árbitro interpretará de maneira correta. Qualquer ataque que não atingiu seu objetivo estará sujeito a ser interpretado como falso ataque, principalmente por árbitros que não vivenciaram na prática e não sabem diferenciar, o que é tentar e encaixar uma técnica, ou errar e ser desequilibrado, ou ainda, realmente ser um ataque falso.Essa penalidade deveria ser excluída. È simplesmente ridículo um judoca vencer ou ser derrotado por uma penalidade desse tipo, principalmente em torneios internacionais, mundiais e jogos olímpicos.

Kumikata (pegada) Apesar de achar um contra senso, como citei no artigo, poderia ser feito um estudo ou experiências com atletas iniciando a luta já segurando, quando então o árbitro diria Hajime e do mesmo modo, sempre que se soltassem.

Técnicos
Técnicos só podem orientar os atletas
Não poderão falar ou gesticular com os árbitros, publico ou dirigentes.

Replay
Estudo para em campeonatos internacionais usar o recurso do Replay para analise imediata por um árbitro de mesa, quando o trio de arbitragem achar necessário.

Odair Borges é mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP), foi o primeiro judoca brasileiro a estagiar no Japão (Universidade de Waseda) no início da década de 70, foi integrante da seleção brasileira durante muitos anos. Cabe ressaltar que sua tese de mestrado foi avaliada (e aprovada) no Japão posto que, na época, não havia uma banca examinadora brasileira preparada para analisar um trabalho específico de Judô.

Fonte :.www.judobrasil.com.br
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