"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano

Mitsuyo Maeda (Conde Koma)


Mitsuyo Maeda nasceu em 1878 na província de Aomori (bem ao norte da ilha de Honshu) e não era de origem nobre, tendo sido um estudante medíocre; ele chegou em Toquio com 18 anos (1897), onde iniciou seus treinos em artes marciais, sendo que o Kodokan possui o registro de sua matrícula desse mesmo ano de 1897. Ou seja, não há nenhuma possibilidade de que ele tenha estudado Ju-Jutsu tradicional , ele começou mesmo treinando judô Kodokan, e logo foi considerado o mais promissor dos estudantes de judô. Mitsuyo Maeda, foi diretamente treinado no Kodokan, pelo inteligente Tomita, e também pelo fortísimo Yokoyama.
Em 1904 ele e seu professor Tsunejiro Tomita foram aos EUA para demonstrações de judô, e ao contrário do que dizem, Maeda não se encontrou com o presidente Roosevelt na Casa Branca (na verdade, quem foi instrutor de judô de Roosevelt foi o lendário mestre Yoshitsugo Yamashita) Os registros da época mencionam apenas que o Consul Uchida, acompanhado de Tomita e Maeda, foram a West-Point para dar uma palestra e fazer uma exibição.
Tomita e Maeda demonstraram os movimentos do Judô, formalmente (wazas, katas), ou seja não fizeram uma luta ou treino livre (randori). Naturalmente, Tomita sendo menor e mais idoso, foi ele o Tori (quem aplicava os golpes) e Maeda o Uke (quem os recebia). Os militares americanos viam sem entusiasmo e, provavelmente, com desconfiança. Pediram então que aplicassem aquilo com eles... Maeda derrubou um cadete e o finalizou com facilidade. Mas insistia-se que o maior de todos os cadetes (um campeão de futebol americano), enfrentasse o velho Tomita. Diziam eles: "Queremos que lute com aquele ali, pois afinal, ele derrubou o outro como peteca!"
Tomita aceitou e parece ter falhado na aplicação do tomoe-nague, quando o gigante musculoso lançou-se sobre ele, Tomita calculou mal e o gigante americano ficou por cima, sem que Tomita saísse, por um tempo.
O incidente foi interpretado como uma grande derrota, e dizem alguns que foi o que inspirou Maeda a passar a lutar desafios. Mas a prática de japoneses desafiando lutadores orientais já era corrente, e creio que Maeda foi para o Ocidente já de olho nisso.
Depois disso ele deu aulas de judô na Universidade de Princeton em NY, mas aí ele começou a aceitar desafios de lutadores de outros estilos (boxe, luta-livre e etc). O Kodokan passou a não tolerar mais a participação de desafios, bem mais tarde, só depois da década de 1920, quando começara um esforço para transformar o Judô em esporte olímpico. Naquela época, o Kodokan queria mais era provar que o Judô era superior às formas de luta ocidental.
Quanto a Theodore Roosevelt, este foi discípulo de outro japonês da elite do Kodokan, Yoshitsugo Yamashita.
Foi Yamashita quem enfrentou lutadores de Luta-Livre na Casa Branca, na presença de Roosevelt, porém não se tem notícia de que tenha sido derrotado. Há um relato segundo o qual Yamashita aplicou, de certa feita, um juji-gatame num gigantesco lutador americano, que preferiu não bater, e teve o braço fraturado.
Yamashita era da primeira geração do Kodokan, como Tomita. Porém, Tomita era mais velho e menos dotado, tecnicamente. Como tinha talento administrativo, Tomita era encarregado da parte burocrática, no Kodokan. Era o secretário de Kano.
Yamashita, embora inteligente e escolado, era um lutador de primeira, e fazia 1.000 treinos livres (randori) por ano. Tinha uma perna toda arrebentada, por causa da dureza dos treinos e vários golpes novos surgiam no Kodokan, em função de adaptações que ele era obrigado a fazer, para seguir seus treinos livres, apesar da perna arrebentada.
Graças à influência de Roosevelt (e contra os desconfiados militares), Yamashita foi contratado em 1905 para ensinar na Academia Naval de Annapolis, contrato este renovado por um ano, de novo por pressão de Roosevelt. No ano seguinte, Yamashita voltou ao Japão.
Depois de 1920 quando começa os esforços para trasformar o judô em esporte olímpico ficou estritamente proibidoaceitar desafios pelas regras do Kodokan. Nesse ponto, há uma dúvida: no fim da vida, o próprio Maeda dizia a outros japoneses que se arrependia de ter feito isso, pois por esse motivo ele tinha sido expulso do Kodokan, mas vários pesquisadores não encontraram nos arquivos do Kodokan nenhum documento que provasse que tal expulsão tivesse de fato ocorrido. De qualquer modo, nesse ponto parece que acabam os laços de Maeda com o Kodokan e começa a carreira "artística do Conde Koma”...
Maeda passou a utilizar esse nome em 1908, na Espanha, para poder desafiar um outro lutador japonês de judô que estava por lá sem ser reconhecido: em japonês, o verbo "komaru" significa "estar em situação delicada" - o que era seu caso, pelo menos do ponto de vista financeiro - ele tirou a última sílaba da palavra e ficou apenas com Koma, acrescentanto a palavra "Conde" (em espanhol mesmo) por sugestão de um amigo espanhol.
Maeda participou de vários torneios de luta-livre, wrestling e etc. E, embora tenha perdido pelo menos 2 lutas, ele parece ter vencido na maioria das vezes (há poucos registros históricos confiáveis de suas lutas). Mas onde existem, esses registros nos dão uma informação preciosa de seu estilo de lutar: Ele geralmente atacava o adversário com "low-kicks"(mae-geri-gedan) e cotoveladas para depois finalizar os adverssários no chão. Na vedade, esse era o estilo utilizado por muitos lutadores do Kodokan no início do século...
No Brasil existe uma controvérsia sobre a chegada de Maeda no país, alguns autores adotam datas diferentes para a sua chegada, como Calleja (1979) que cita final da década de 20 e início da de 30, Virgílio, (1986), início da década de 20, Soares (1977), determina 22, junto com Hunger et al. (1995), entre outros autores, recentemente, porém, em artigo na revista Judô, Rildo Heros Barbosa de Medeiros , relata a chegada do Conde Koma, através da cópia do passaporte de Maeda cedido por Gotta Tsutsumi (Presidente da Associação Paramazônica Nipako de Belém, revela que sua chegada ao Brasil teria sido em Porto Alegre no dia 14 de novembro de 1914. No Brasil ele teria percorrido o caminho de Porto Alegre onde teria se exibido pela primeira vez, seguindo depois para o Rio de Janeiro, São Paulo , Salvador, Recife, São Luiz, Belém (outubro de 1915) e finalmente em Manaus, no dia 18 de dezembro do mesmo ano. "A primeira apresentação do Grupo Japonês em Manaus, intermediado pelo empresário Otávio Pires Júnior, foi em 20 de dezembro de 1915, no teatro Politeama", sendo apresentadas técnicas de torções, defesas de agarrões, chaves de articulações, demonstração de armas japonesas e desafio ao público. Maeda teria também oferecida seus serviços para "a Academia Militar e o Exército, os quais incorporaram a prática do Judô no treinamento dos Militares".Maeda firmou-se em Belém, por se tratar do porto mais próximo uma vez vindo por via marítima através do Pacífico. Conde Koma então já era sensei da escola Kodokan de judô no Japão e possuía graduação de faixa preta com o sexto dan.Em1986, Maeda criou uma escola em Belém do Pará, onde teve relativo sucesso, sendo que falecera nesta cidade em 1941. De vários alunos que frequentaram sua academia, restou apenas a família Grace para dar continuidade ao seu trabalho.
Maeda ensinou Carlos Gracie em virtude da afinidade com seu pai, Gastão Gracie. Carlos por sua vez ensinou a seus demais irmãos, em especial a Hélio Gracie. Neste ponto surgem duas teorias. A primeira alega que Maeda ensinou somente o judô de Jigoro Kano a Carlos, e esse o repassou a Hélio, que era o mais franzino dos Gracie, adaptando-o com grande enfoque no Ne-Waza - técnicas de solo do judô, ponto central do Gracie jiu-jitsu ou brasilian jiu-jitsu.
Para compensar seu biotipo, a partir dos ensinamentos de Carlos, Hélio aprimorou a parte de solo pelo uso do dispositivo de alavanca, dando-lhe a força extra que o mesmo não dispunha. A segunda teoria, apoiada pelos Gracies, fala que Maeda era, também, exímio praticante de ju-jutsu tradicional e foi essa a arte que ensinou aos brasileiros. Porém, em uma recente entrevista, Hélio Gracie afirma que "Carlos lutava judô’, veja a entrevista http://www.youtube.com/watch?v=BG309oqVLb4


colaborou com a pesquisa Pablo Peres.
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1 comentários:

Anônimo | 17 de setembro de 2007 às 12:14 ¿Responder? |

Interessantíssimas as explanações sobre o tema. Pertinentes e curiosas. Elton está fazendo um excelente trabalho, digno de um entusiasta da arte. (Douglas Rios)