"A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar da raça humana" "Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influênciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitidas a outras cem." Jigoro Kano
SARAH MAYER
Primeira mulher ocidental a conseguir o shodan no Judo:
SARAH MAYER
Cortesia de "Richard "Dicky" Bowen", do Budokai de Londres, Inglaterra
Tradução e escolha de textos de Carla Valverde
Agradecimentos: Neil Ohlenkamp
Sarah Mayer começou a praticar Judo no Budokai de Londres, que fora fundado por Gunji Koizumi a 28 de Janeiro de 1978. Sarah visitou o Japão nos anos 30 e estudou no Budokan e mais tarde no Butokukai de Kyoto, que tinha sido inaugurado em 1890 e era dirigido pelos alunos de Jigoro Kano. A 1 de Março de 1935, o jornal Times japonês foi editado com o título "Mulher estrangeira obtém Shodan no Butokukai". A graduação foi atribuída a Sarah Mayer a 27 de Fevereiro de 1935 e foi a primeira mulher ocidental a conseguir um cinturão negro no Judo. Sarah voltou a Inglaterra no mesmo ano e praticou no Budokai durante algum tempo até estabelecer o seu próprio dojo na sua cidade natal, Brugh Heath. Sarah trabalhava em teatro e escreveu a peça Hundreds and Thousands, que foi exibida no Teatro Garrett em 1939. Também escreveu artigos e histórias para o jornal Evening Standard. Durante a estadia de Sarah Mayer no Japão, que durou cerca de dois anos, ela escreveu ao Mestre Gunji Koizumi. Os excertos que se seguem são partes dessas cartas, que nos fornecem uma perspectiva da história do Judo e do país tal como o viveu Sarah em 1930. A presença de uma estrangeira já era por si uma raridade. Uma estrangeira que praticava judo com tal afinco era verdadeiramente algo extraordinário.
"Ainda estou em Kobe. Foi assim porque todos têm sido tão simpáticos para mim no Butokuden, e o Sr. Yamamoto é tão paciente comigo, que eu não me sinto com vontade de partir já." "Fui dificilmente persuadida a vestir o meu fato de judo e para meu horror, descobri que centenas de homens tinham parado de treinar judo ou kendo para se sentarem em fila para verem o que eu estava a fazer. O Sr. Yamamoto também me pareceu muito infeliz. Ele conduziu-me como se eu fosse uma bomba que poderia explodir a qualquer minuto. Para piorar as coisas, uma quantidade de homens com câmaras fotográficas estavam á minha espera, e eu nunca quis tanto estar fora do país como naquele momento. O Sr. Yamamoto permitiu que eu o projectasse umas quantas vezes e como eu estava desesperada ataquei-o com toda a força e com a sensação de que a morte seria preferível a desgraçar-me para sempre perante tamanha assembleia.(?) Durante esta experiência, uma personagem de alta graduação e muito solene, vestida de kimono, veio até junto de nós; na sua face eu reconheci uma expressão de entusiasmo que me aterrorizou. Depois, o fotógrafo avançou, mas quando estavam prestes a tirar fotografias, a personagem solene parou-os fazendo um gesto imperativo com a mão. Provavelmente ele pensou que eu tinha trazido todos aqueles jornalistas comigo e que isto era contra o espírito do judo, eu quis explicar-lhe que isto não era culpa minha, e que eu tinha sido arrastada para ali contra a minha vontade, porque me tinha sido assegurado que eu não teria que fazer mais nada além de ver os outros a praticar judo. Como ninguém falava inglês, eu não tinha como explicar. No entanto, não parecia haver razões para preocupações, pois tudo o que aquela pessoa solene queria fazer era desapertar o meu cinto e cruzar o meu fato ao contrário e quando ele teve a certeza de que eu estava convenientemente vestida, avisou os fotógrafos para prosseguirem. Depois deste acontecimento, sentei-me para ver um lutador americano a lutar com o Sr. Yamamoto. Este pobre rapaz foi suficientemente parvo para publicitar que poderia fazer tudo aquilo que quisesse com qualquer judoca de qualquer parte do mundo. Eu ouvi-o a gabar-se e avisei-o, mas ele não me ouviu. Assim, durante a meia hora seguinte, nós vimo-lo a ser tratado comouma criança por vários homens que foram escolhidos de propósito. Eu pensei que o americano era um pouco azarento, por ter caído nas mãos de homens 5º Dan, mas de qualquer forma ele mereceu-o, e assim distraiu as atenções de mim e deu-me tempo para recuperar." "Agora vou todas as manhãs, ás oito horas ao Butokuden e o Sr. Yamamoto dá-me uma aula. Ele é muito cuidadoso e simpático comigo, mas já não me trata como se eu fosse uma delicada peça de porcelana. Ao fim de algumas horas, sinto-me como se estivesse nas garras de um elefante brincalhão. Ele pareceu bastante surpreendido e embaraçado ao saber que eu não sinto aversão ao trabalho de chão e disse-me através de um intérprete que pensava que eu iria argumentar o facto de ser mulher. Eu disse-lhe que enquanto praticava judo achava que não tinha sexo, então ele levou isso a sério e sentou-se em cima de mim durante um bocado até eu me arrepender do que havia dito e agora não tem piedade de mim. Ele pesa cerca de 90 quilos e quando se senta em cima de mim, é como se eu tentasse mover uma montanha."
"No outro dia houve competições e eu fui convidada. Estive desde as sete da manhã até ás cinco da tarde sentada na mesa do júri (graças a Deus não tivemos que nos sentar no chão) e almocei com eles no intervalo. Muitos homens importantes do judo vieram ver a competição, foram muito simpáticos para mim e deram-me os seus cartões, onde escreveram as suas graduações: 5º, 6º, 7º, e 8º Dan. Eu também lhes dei o meu cartão e pensei se deveria escrever "cinto branco" em letras grandes, mas achei que isso seria facilmente visível."
"De qualquer forma, estou-me a habituar-me a eles e eles a mim. Eu até já recuperei do choque que tive quando descobri que iria partilhar a casa de banho ? para não falar da banheira ? com a polícia inteira de Kobe. (...) Todos são tão simpáticos para mim, mandam-me flores e presentes e levam-me a todo o sítio. Felizmente há um jornalista japonês que fala inglês perfeitamente e que poderei consultar acerca dos comportamentos adequados, de forma a não fazer as coisas mal muitas vezes."
"Os meus cumprimentos à Hana e ao Sr. Koizumi e os melhores cumprimentos a todos no Budokai. Diga ao Sr. Tani que estou a adorar, mas que ninguém aqui me trata tão delicadamente como ele fazia. Agora compreendo o cuidado que ele tinha quando me projectava para o tapete!"
"Eu tenho outra rapariga comigo durante as férias. Ela tem vinte e um anos mas aparenta ter dezasseis. É muito diferente das outras. (?). Cai sobre o que quer que esteja no seu caminho. Eu salvei-a de ser atropelada mais vezes do que aquelas que posso contar e na presença de homens é tão tímida que não faz mais nada senão dar risinhos. Todos os dias me pergunta o mesmo acerca do Judo ? "Não é terrível ser projectada?" até eu ficar tão irritada, que se não tenho cuidado, levanto-a e deixo-a cair só para lhe mostrar. Porém, é uma rapariga simpática e gosta tanto de me agradar que não quero ser indelicada."
"O Sr. Yamamoto dá-me aulas de judo todas as manhãs, domingos incluídos, durante aproximadamente duas horas e à tarde vou a Miyahojigawa, onde o Sr. Sonobe me ensina a nadar. Eu partilho uma pequena sala com a polícia de Kobe, que vão todos treinar ao Butokuden. Eles entram e saem, independentemente de como eu esteja vestida, mas agora já me habituei."
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